Materiais:
Enviada em: 07/06/2018

Identidade reificada    O samba, fruto da cultura popular brasileira, foi sendo incorporado a um ideal de comércio após seu sucesso, transformando uma manifestação de rua em festas privadas que restringem o acesso de toda a população, principalmente da menos favorecida. Nessa perspectiva, deve-se ressaltar a apropriação cultural em seu aspecto negativo, seja por transformá-la em mercadoria, seja por desfocar seus valores.    Exordialmente, as sociedades atuais vêm nas culturas uma forma de garantir lucros, fazendo com que elas sejam objetos de comércio. Nesse viés, deve-se destacar o conceito dos sociólogos Adorno e Horckheimer de Indústria Cultural, que é a produção de músicas, filmes, imagens e exposições a fim de vendê-los, sem a preocupação de representar com fidelidade os ideais que constroem as manifestações artísticas. Desse modo, as empresas apropriam-se de pessoas cujo trabalho é produzir e compor em quantidade, não em qualidade - subvertendo valores estéticos e sentimentais em prol da capitalização.    Em segundo lugar, além de transformar em mercadoria, a apropriação cultural, gera um desfoque de valores. Dessa maneira, o conceito de reificação do sociólogo Karl Marx afirma que é interesse do mercado transformar diversos aspectos em objeto, que tudo é passível de "coisificação". A exemplo disso, os turbantes, símbolos da cultura negra e do candomblé, são usados em desfiles por modelos brancas e estrangeiras; a imagem de buda, manifestação religiosa, vem sendo usada em artigos de decoração; e simbologias orientais, como a representação do equilíbrio, são comuns de serem retratados em tatuagens. Nesse ínterim, não há a preocupação com as teorias e as tradições que construíram tais identidades, pois o mais importante é que elas sejam atrativas ao consumidor.    Infere-se, portanto, que as manifestações culturais de um povo devem ser respeitadas e que a apropriação dessas é prejudicial ao seu significado. Em vista de reduzir a quantidade de pessoas que "consomem" cultura de forma impensável, o Ministério da Educação poderia elaborar grupos e oficinas de artes e músicas nos municípios brasileiros e em escolas públicas, para que as próximas gerações deem-as mais valor. A fim de garantir a integridade cultural no Brasil, o Poder Executivo poderia requerer das empresas uma parcela de seus lucros quando esses forem advindos da reificação de culturas, além de destiná-los para a promoção de eventos populares, como o samba. Mediante essas alterações, a sociedade desfrutaria de um maior valor artístico e uma menor industrialização de identidades.