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Enviada em: 28/08/2018

Parafraseando o geógrafo Milton Santos, a força da alienação vem da capacidade dos indivíduos quando eles percebem apenas o que os separa e não o que os une. Em outras palavras, a ausência de criticidade acerca da questão da apropriação cultural representa a banalização da falta de entendimento das origens da diversidade cultural brasileira, a partir da pluralidade étnica. Isso se deve, sobretudo, à manipulação capitalista e ao descaso governamental no âmbito educacional.    Conforme Karl Marx, em um mundo capitalizado a busca por lucros ultrapassa valores éticos e morais. Nessa perspectiva, a apropriação cultural representa, muitas vezes, a tentativa desse sistema de maximizar os lucros ignorando a simbologia de determinados elementos culturais. Isso é comprovado quando se percebe o fomento ao uso do turbante, através de campanhas publicitárias, como algo meramente estético desconsiderando o significado desse elemento cultural para uma parcela significativa da população historicamente oprimida. Essa situação representa o que o filósofo Bourdieu denominou de “violência simbólica”, isto é, a tentativa de impor comportamentos.    A negligência estatal no setor da educação também é um dos fatores que obstaculizam a questão da apropriação cultural. Prova dessa realidade é a ausência de efetivação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação que determina, entre outros, a obrigatoriedade do ensino afro-brasileiro, o que auxiliaria em uma formação crítica acerca da apropriação cultural. Nesse sentido, destacam-se os ensinamentos do pedagogo Paulo Freire a partir dos quais é nítido que não basta saber ler que “Eva viu a uva”, é preciso compreender a realidade social na qual Eva está inserida, quem produz a uva e quem lucra com essa produção. Em outras palavras, é evidente que os problemas acerca da apropriação cultural perpassam pela falta de um entendimento aprofundado dos desafios enfrentados por minorias sociais, os quais se manifestam na naturalização da ausência de reconhecimento da importância de elementos culturais contra a opressão.    Logo, é preciso que o Ministério da Educação invista na capacitação continuada de professores, por meio de fóruns educativos que versem sobre temas como, a apropriação cultural e as relações sociais nos espaços de poder, objetivando a efetivação do ensino da história afro-brasileira para que haja a desconstrução de estereótipos. Além disso, os indivíduos socialmente engajados, em parceria com instituições de ensino, devem promover palestras, atividades lúdicas e apresentações teatrais, já que ações artísticas tem grande poder transformador. Assim, haverá a construção de um senso crítico acerca da apropriação cultural.