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Enviada em: 18/01/2018

A apropriação cultural tem sido amplamente debatida na mídia, incluindo-se aí as redes sociais. Numa definição não muito precisa, pode-se dizer que a apropriação cultural é o ato de praticar costumes de uma cultura diferente. O fenômeno da apropriação tem sido avaliado de formas diferentes, talvez pelo próprio termo “apropriar-se” ter um aspecto positivo ou negativo. Para um grupo da sociedade, a apropriação é algo positivo. Nada de mal se vê em adotar costumes de uma cultura diferente. Parece que nenhum americano, até onde se tem notícia, reclamou a patente do breakfast ou se voltou contra brasileiros adeptos desse costume. E a apropriação continua: quando há pouco surgiu o conceito de brunch, uma junção das palavras breakfast e lunch, nos Estados Unidos, muitos brasileiros, assim como muitos europeus, aderiram à ideia. Ao contrário do brunch, o uso de turbantes parece ser um problema mundo afora. O exemplo da proibição, pelo governo francês, do uso do turbante nas escolas, revela, por exemplo, um caso de “desapropriação” cultural forçada. E no Brasil, o uso do turbante tem sido reclamado por grupos minoritários de afrodescendentes, como atestou há pouco o caso, na imprensa, de uma universitária ter sido abordada no metrô de Curitiba por estar usando um turbante. Voltando a atenção para os casos do brunch e do turbante, percebe-se outro problema crucial: a direção das apropriações e das “desapropriações” culturais. Não é segredo, na história ocidental, de que Estados Unidos e França, no centro do sistema capitalista, são culturas dominantes, o que não se pode dizer, pelo menos neste momento, das culturas muçulmanas e africanas. De qualquer forma, fica difícil, no mundo globalizado, requerer exclusividade de símbolos que se julgam nacionais ou pertencentes apenas a determinados grupos. Numa sociedade democrática, não se pode tolher a liberdade que um indivíduo tem de adotar determinado costume ou vestimenta, a não ser que o costume ou a vestimenta em questão estejam fortemente relacionados à religião ou ritos. Não parece ser esse o caso do turbante no Brasil.