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Enviada em: 21/03/2018

Em fevereiro de 2017 uma jovem portadora de câncer foi abordada por uma mulher negra que a acusou de apropriação cultural por estar usando um turbante. Ao dizer em sua página no Facebook "uso o que eu quero", a garota foi apoiada por uns e ao mesmo tempo criticada por outros. Assim, seu post repercutiu nas mídias dando espaço para a problemática da apropriação cultural na sociedade moderna que existe devido à ignorância dos "apropriadores" ou ainda pelo incentivo da indústria da moda.       Apesar de ser ensinado nas escolas que a escravidão e segregação racial existiram por séculos em vários países, infelizmente as atrocidades cometidas com negros e indígenas, bem como o racismo não são detalhadas nos livros escolares. Turbantes e tranças representavam símbolo de resistência negra e luta em prol de direitos civis, negligenciados aos afrodescendentes, que não tinham direito sobre o próprio corpo. Ignorando tais fatos, o jovem branco utiliza-se de acessórios - no passado já hostilizados e proibidos - de uma cultura considerada inferior sem ao menos saber o valor cultural ou religioso que esses representam em sua origem. O principal problema é de aderir a acessórios negros mas ao mesmo tempo negligenciar a cultura negra e todo seu passado histórico.       Concomitantemente, há ainda a questão da indústria da moda que fomenta a criação de novas tendências as quais consideram o aspecto visual e ignoram os verdadeiros valores intrínsecos em tais elementos. São constantes os casos de modelos e cantoras que apareceram nas mídias acusadas de apropriação cultural, seja pelo uso de tranças, dreadlocks ou turbantes. A exemplo disso, pode-se citar cantora Kate Perry que ao aparecer num clipe usando tranças afro, foi acusada de apropriação cultural  e posteriormente pediu desculpas dizendo que "não sabia, não percebeu que tinha algo errado mas pode se educar". A cantora aderiu a um elemento afro, mas não a cultura afro e, pelo contrário, sequer sabia o verdadeiro significado desse importante símbolo de resistência e identidade negra. Desse modo, ocorre a banalização e ressignificação de acessórios que um dia foram símbolo de luta.       A priori faz-se necessário que escolas e universidades promovam a discussão em torno de culturas  historicamente hostilizadas, abordando o tema em aulas e promovendo debates a fim de se criar uma conscientização do verdadeiro significado de acessórios, costumes e símbolos. Ao Ministério da Cultura cabe a função de criar programas que valorizem as culturas minoritárias através do incentivo a exposições e campanhas com o objetivo de atingir o maior número de pessoas. Assim, talvez seja possível lutar contra a ignorância da população e garantir mais respeito àqueles que sofrem preconceito até hoje.