Materiais:
Enviada em: 20/10/2017

No recente documentário “Laerte-se” da Netflix é mostrado, de forma humorística e inovadora, as dificuldades enfrentadas pela cartunista Laerte Coutinho que aos 62 anos sofreu um processo de aceitação identitária e hoje é considerada uma mulher trans. Fora da TV, essa realidade atinge vários brasileiros e brasileiras que se identificam com o gênero que melhor lhes representa, seja ele masculino ou feminino. Nesse sentido, é importante ascender uma discussão que pode ser visualizada sob dois aspectos: a persistência da violência contra esse grupo de pessoas e a resistência em se debater esse tema no Brasil.       Em primeiro plano, é necessário que a sociedade não seja reflexo da ideologia de Burke, que defende a restauração da tradição conservadora. Sob esse viés, é notório que os valores conservadores cristãos são motivo do assunto em questão ainda ser considerado como “tabu” e “errado”. Dessa forma, a lenta mudança na mentalidade social pode ser exemplificada pela repercussão negativa que uma propaganda intitulada “Misture, Ouse e Divirta-se” teve no país. Propaganda na qual a marca de roupas ”C&A”, mostra homens vestindo roupa de mulheres e vice-versa. Nesse contexto, percebe-se uma dificuldade de considerável parte da população em aceitar aqueles que fogem do padrão normativo imposto pela sociedade.     Outro problema vigente é o crescente número de casos de violência física e psicológica contra os transsexuais, travestis e qualquer um que não se encaixe no padrão cis (aquele que se identifica com o gênero a que lhe foi atribuído ao nascer). Tem-se como prova disso alarmantes dados do IBGE, que apontam que a expectativa de vida dos transexuais no Brasil é de 35 anos, quase a metade da média nacional e inferior ao país mais pobre da África. Além disso, o Brasil foi considerado o país que mais possui vítimas da transfobia. Por isso, a sociedade e os órgãos responsáveis precisam agir para que histórias como essas não mais façam parte do cenário nacional.     Portanto, medidas cujo o objetivo seja alterar esse quadro são cabíveis. É dever do Estado em parceria com o MEC aumentar a carga horária das aulas de Sociologia, que por meio de palestras, debates e fóruns discuta com os alunos das escolas públicas e privadas a importância do respeito à diversidade e a gravidade dos crimes de ódio, para que assim, esses tornem-se cidadãos mais conscientes e façam do país um lugar com menos preconceito. Ademais, é importante que exista também nas escolas e na sociedade uma conscientização a respeito do Artigo 5 da Constituição que declara que todos são iguais perante a lei, evidenciando as penalidades aqueles que de qualquer forma a violarem. Afinal, como disse Laerte Coutinho: “Gênero é algo que pode e deve ser discutido”.