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Enviada em: 28/07/2017

A diversidade humana sempre existiu, e a história revela os percalços da difícil convivência entre os diferentes. Desde tempos mais remotos as pessoas são classificadas e, devido a atribuições de valor, hierarquias são produzidas. No Brasil não é diferente, quando foi colonizado, por volta de 1500, os colonizadores impuseram aos índios e, mais tarde, aos negros as suas civilidades. Desde então, perpetua no país uma sociedade desigual com formas de violência, dominação e exclusão arraigadas.       Nessas circunstâncias, pode-se afirmar que a questão constitucional e sua aplicação estejam entre as causas do problema. Parafraseando o sociólogo francês Pierre Bourdieu, o instrumento criado para implementar a democracia direta não deve ser convertido em um mecanismo de opressão simbólica. Tomando como norte a máxima do autor no contexto brasileiro, evidencia-se a discriminação e o preconceito no que tange às questões de identidade de gênero.       Por muito tempo, certas práticas sexuais foram consideradas como desviantes, criminosas e até, patológicas. Embora atualmente tal percepção tenha sofrido mudanças, a violência e a intolerância contra a diversidade sexual, bem como a falta de apoio familiar, continuam agravando  a vulnerabilidade dos transgêneros, expostos à dependência de drogas e aos transtornos psiquiátricos, como a depressão. Além disso, em busca de aceitação própria, se submetem a procedimentos de alto risco em clínicas clandestinas e ao uso indiscriminável do silicone injetável sem qualquer orientação.       Diante desse diapasão, pode-se afirmar que rever o passado a fim de deslegitimizar formas de poder e dominação é imprescindível para encontrar novos sentidos para o presente e para o futuro. Convém, portanto, aos grupos formadores de opinião tais como a família, os professores e a mídia combater o preconceito e a discriminação de gênero por meio da promoção do diálogo e da tolerância da percepção que é diversa. Cabe ainda ressaltar que a mídia, como elemento essencial de informação, deve desconstruir a forma estereotipada e tendenciosa como trata as questões relacionadas à identidade de gênero, evitando situações de exposição e vulgarização. Por outro lado, ao Estado, como mantenedor dos interesses coletivos, é pertinente a criação de condições adequadas de atendimento e acolhimento. Nesse sentido, reduzir a burocracia no processo de mudança de nome, aumentar o número de cirurgias de redesignação sexual aos transsexuais e treinar equipes multidisciplinares de orientação e instrução para atuarem em escolas, hospitais e nos domicílios, constituem uma resposta eficaz para conferir autonomia e inclusão social aos transgêneros.