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Enviada em: 31/10/2017

Na mitologia grega existiu um assaltante e torturador de nome Procusto que ofertava hospedagem aos viajantes, disponibilizando a eles um leito. Caso esses não coubessem perfeitamente nessa cama, eram submetidos a torturas para tornarem-se ideais aos padrões impostos. A história de Procusto é um retrato lastimável da sociedade contemporânea, a qual, estando pautada em uma mentalidade dualista, condena e ataca veementemente àqueles que não se adequam a concepções pré-estabelecidas no que diz respeito à diversidade de gênero, sendo sua principal vítima a comunidade LGBT.       Segundo a filósofa Judith Butler, o gênero é uma produção social, ou seja, é um ato intencional construído ao longo dos anos, logo não deve ser tratado como um atributo fixo de uma pessoa, mas como uma variável fluida que apresenta diferentes configurações. Contudo, grande parte da sociedade brasileira, por ter sido edificada sobre concepções patriarcalistas e religiosas, ainda apresenta uma visão binarista acerca do gênero, a qual estrutura a concepção normativa sobre as propriedades dos seres necessariamente sexuados dicotomicamente, ou seja, homem e mulher cis heterossexuais. Essa dificuldade de reconhecimento da pluralidade da natureza humana abre espaços para a explosão de práticas intolerantes, exemplificadas por falas de cunho depreciativo e ofensas direcionadas a todos aqueles que não se encontram na redutora dicotomia de gênero.         A explosão de tais atos de violência é, segundo a antropóloga Françoise Héritier, um reflexo de uma sociedade essencialmente intolerante que apresenta dificuldades de reconhecer no outro indivíduo seu semelhante, colocando como uma ameaça. Assim, essa passa realizar tentativas para legitimar a violência e negação de direitos àqueles que compartilham de valores diferentes em relação aos pré-estabelecidos por uma diretriz, de cunho essencialmente machista e patriarcal, falsamente colocada como correta. Como consequência desse cenário, de acordo com dados assombrosos divulgados pelo Grupo Gay da Bahia, o Brasil se tornou o país que mais mata travestis e transexuais no mundo.      Portanto, diante das atrocidades que ainda são direcionadas àqueles que não se encaixam na concepção binária de gênero e visando a consolidação de uma sociedade moral e eticamente mais evoluída, o Ministério da Educação, aliado a Secretaria  Especial dos Direitos Humanos, pode incentivar as instituições escolares a trabalharem acerca da diversidade de gênero, frisando a importância do respeito e colocando a igualdade como algo inerente a todos os indivíduos. A realização de campanhas socioeducativas acerca do respeito à diversidade de gênero, a serem veiculadas nos meios de comunicação em massa, por parte dessas instituições é de suma importância para a redução da ignorância e do preconceito e, consequentemente,para a retração das drásticas explosões de violência.