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Enviada em: 30/08/2017

Futuro descortinado       No início do século XIX, nasce a literatura romântica, capaz de sustentar os interesses burgueses de entretenimento e marcada por superficialidade e idealização de personagens femininas. Na segunda metade do mesmo século, contudo, desponta Machado de Assis, autor que concedeu espaço ímpar e complexo às mulheres em suas obras - Capitu, curiosa, esperta e ávida por conhecimento, figura como exemplo. Fora da literatura e em contextos mais recentes, o segmento coletivo feminino continua apresentando papel secundário. Discutir, pois, os entraves que bloqueiam a livre convivência entre tal grupo e os demais torna-se essencial.        Quando se ocupa posição exterior ao status quo observável, nota-se que boa parte das relações sociais, principalmente as virtuais, confirmam a fluidez e dinamicidade de nossa realidade. A questão de gênero, entretanto, parece dar passos lentos em direção à mudança necessária: baixos salários, machismo, estupros e concentração de tarefas domésticas ainda fazem parte do cotidiano feminino e são apenas metonímias da problemática. É possível inferir que, derivados de concepções patriarcais, biológicas e arbitrárias, valores que conferem papéis estritos aos gêneros enraízam-se no imaginário individual. Para Simone de Beauvoir, importante filósofa feminista que referia-se ao sexo feminino como o "segundo sexo", o que configura a posição feminina são, antes de tudo, as construções sociais.       As amarras provenientes das interações coletivas afetam ambos os gêneros e atingem, também, outras orientações sexuais, implicando consequências preocupantes. A estereotipação atual mostra-se velada, disfarçando pretextos de interesses por discursos apaziguadores. Um exemplo desse aspecto é a contraposição entre a aceitação comedida de setores conservadores da sociedade sobre os movimentos feminista e LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) e, por outro lado, o preconceito diário que emitem. Desse modo, perpetua-se um ciclo nocivo, que há muito macula todas as esferas sociais.       Assim sendo, fica clara a complexidade tangente às relações entre sociedade, indivíduos e questões de gênero. Posto que há abismos em tais interações, faz-se necessária a atuação conjunta de escolas e famílias em prol do ensino de respeito e noções de igualdade, através de dinâmicas, palestras e diálogos. A curto prazo, o poder público, por meio de órgãos de justiça, precisa fiscalizar casos de crimes de ódio e preconceito, aplicando, quando necessário, as leis de forma sóbria. A urgente busca pela equidade de gêneros não pode ser tratada como utopia: responsabilidade de todos, é o primeiro passo para descortinar um futuro justo e harmonioso, em que o gênero não seja um critério diferenciador.