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Enviada em: 29/07/2018

No ano de 2009, uma aluna de curso superior, na cidade de São Paulo, teve que ser escoltada por Policiais Militares até a saída da instituição. A razão? O vestido utilizado pela aluna, Geizi Arruda, era curto demais, segundo os colegas de faculdade. Como resultado, Geizi sofreu diversas ofensas dos estudantes, tudo devidamente filmado e fotografado por aparelhos celulares. Situações como essa ganham proporções nacionais e expõem de forma indubitável a cultura do estupro presente e atuante na sociedade brasileira.          A cultura do estupro é uma manifestação do machismo. A sua permanência pode ser justificada por diversas razões. Entre elas, o histórico masculino dominante, fragilidade física da mulher em relação ao homem e a transmissão, de pais para filhos, de valores degenerados sobre igualdade dos sexos. Assim, a perpetuação de conceitos errôneos de pais aos seus descendentes, estimula a permanência dos "status quo" do cenário do machismo e da, consequente, cultura do estupro. A título de exemplo desse comportamento, seria a situação em que dois filhos, um do sexo masculino e um do sexo feminino, desfrutam de permissibilidades distintas ao longo da criação dos pais. Dessa maneira, por exemplo, seria permitido ao filho do sexo masculino frequentar festas mais cedo, voltar para casa mais tarde e, talvez até, namorar em idades menos avançadas. Como consequência, atribuem-se dois pesos e duas medidas, embutindo-se valores inconscientes, nessa prole, que se comprovam através da liberdade física, comportamental e sexual do homem em detrimento da mulher. Ou seja, a cultura do estupro se estabelece na distinção das liberdades de homens e mulheres. Consequentemente, a cultura do estupro impõe iniciativas que consolidem a autonomia feminina e retarde o machismo.            Apesar da Constituição de 1988 arfirmar “todos são iguais perante a lei”, não se podem mudar os conceitos e preconceitos atuando unicamente na frente normativa da questão. É necessário incrementar as discussões acerca do papel da mulher no seu nível mais popular, dialogando diretamente com as massas. Uma alternativa viável seria cada Estado estabelecer, em parceria com municípios, um programa intitulado de “Mulher Sexo Forte” em que, através de um cronograma anual definido, escolas, universidades, judiciário, ministério público, estabelecessem ciclos de palestras, peças teatrais e músicas discutindo a evolução do papel da mulher na sociedade e debatendo as novas realidades do mundo contemporâneo.             Portanto, à luz de Simone de Beauvoir, que afirma que “ninguém nasce mulher, se torna mulher”, é preciso que a possa mulher sê-la, através da conscientização e mudança de paradigmas.