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Enviada em: 06/05/2019

Dilacerando raízes    "Olha a roupa dela! Estava pedindo, né?" "Se estivesse em casa a essa hora, não teria sido estuprada." "Para isso ter acontecido, boa moça não devia ser." Apesar de impactantes, essas sentenças, no Brasil, são comuns quando uma mulher é moralmente violada pelo estupro. Tais posturas estão diretamente associadas à formulação histórica da estrutura social e à consequente institucionalização desse mal. Nesse sentido, convém analisar essa cultura de violência sexual, a fim de propor soluções.      É preciso apontar, em primeiro lugar, que o comportamento adotado pela sociedade brasileira, em relação ao estupro, se deve a problemática construção social do país. Adotando os costumes conservadores da sua metrópole portuguesa, o Brasil foi gradativamente formado por uma visão de mundo patriarcalista e machista. Dessa forma, o homem passou a ser visto como o gênero superior, aquele deveria ter a seu dispor uma figura feminina para lhe "servir". Por conseguinte, essa absurda organização social tornou-se a regra, servindo de base à cultura da violência sexual feminina, dado que a mulher é classificada, de acordo com tal concepção, como um produto disponível ao sexo masculino.       Cabe ressaltar, ainda, que a cultura do estupro não se restringe às relações entre o homem e a mulher, mas se institucionaliza pelo pensamento de grande parte da população brasileira. Para comprovar tal constatação, nota-se facilmente que a figura feminina se tornou um "fato social" (o qual, de acordo com a teoria de Émile Durkheim, se trata de um padrão dirigido ao indivíduo). Nesse contexto, as pessoas criam modelos de mulheres a serem adotados - respeitosa, recatada, de família - sendo que, se não seguidos, elas passam a ser responsáveis por si caso venham a ser violentadas. O que gera, por conseguinte, uma onda de preconceito, reafirmando esse abominável costume social.       Fica claro, portanto, que a cultura do estupro é uma realidade no Brasil e precisa ser combatida. Para tanto, as novelas e as propagandas podem desenvolver ficções engajadas, abordando a temática da violência sexual feminina pelo parâmetro das relações amorosas e sociais, a partir de investimentos por parte das grandes emissoras. A fim de difundir, de maneira mais ampla, a necessidade de se combater esse pensamento. Ademais, o Ministério da Mulher e o Ministério da Educação podem elaborar currículos escolares que tratem a temática, utilizando a possibilidade dos conteúdos transversais. Com o objetivo de, com isso, cortar esse costume danoso pela sua raíz.