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Enviada em: 26/03/2018

A incredulidade de determinados públicos em acreditar que atos de extrema violência física e emocional não fazem parte do cotidiano, apenas disfarça as raízes do ser egocêntrico e não encaixado nos moldes civilizatórios. Consequentemente pensamentos brutais à integridade do ser humano são expostos e, muitas vezes, não corrigidos. Dessa forma, o combate à cultura do estupro se torna um empecilho ao desenvolvimento humano, ora pela falta de compromisso dos órgãos governamentais para com a população, principalmente com as mulheres e crianças, que são os mais afetados, ora pela maioria dos cidadãos, famílias e as próprias vítimas preferirem o silêncio à saírem de tal realidade.   Tais fatores, além de agravar ainda mais a situação caótica das relações interpessoais, corroboram as ideias do filósofo Jean Paul Sartre frente aos quadros das mazelas sociais de sua época. Segundo ele, o reconhecimento da violência, seja qual a forma com que se manifeste, é um avanço em perceber o fracasso dos moldes adotados para o alcance de civilidade. Nesse viés, é preciso entender que a cultura do estupro não se restringe apenas ao sexo feminino. Vistos, por muitos, como seres ainda frágeis, bebês, crianças, adolescentes - meninos e meninas - são alvos dos agressores. Mais adiante, o "psiu" e os elogios maldosos nas ruas, apenas expõe a falta de educação e respeito à sociedade.   Diante disso, os dados são alarmantes. Decacordo com o Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, todos os anos cerca de 50 mil pessoas são estupradas no Brasil, acrescidos de agressões psicológicas e emocionais que, em alguns casos, terminam no óbito de quem sofrera com os atos. Por outro lado, nos esportes, a justificativa de abusos sexuais por médicos e técnicos - recentemente na ginástica artística norte-americana - em troca de vagas na equipe principal, gera medo em ambos os sexos em optar por alguma modalidade como alternativa de lazer ou profissão. Nessa diapasão, a criação de mais leis e o "esquecimento" de colocá-las em prática em nada mudará a velha máxima de liberdade sem moderação.   Frente a essa realidade, é imprescindível aos órgãos governamentais responsáveis pela integridade dos cidadãos, como o Ministério Público de Segurança, Delegacias, ECA, OAB, policiais civis e militares, o apoio conjunto que combatam a cultura do estupro, através da descoberta dos casos e a aplicação eficiente das regras criadas contra o agressor. Caberá, também, à mídia a autonomia de mostrar à sociedade os riscos do silêncio de não denunciar os casos de estupro e outros tipos de violência, através de palestras nas comunidades, programas nos horários de maiores audiência, além de distribuição de panfletos nas ruas, escolas e Universidades. Assim, será possível sair da proximidade com a realidade de "O Cortiço", mostrado por Aluísio de Azevedo.