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Enviada em: 25/10/2018

Consoante a socióloga francesa Simone de Beauvoir, é preciso erguer o povo à altura da cultura, e não rebaixar a cultura ao nível do povo. Nessa perspectiva, a etnicidade popular é o principal meio de identidade e conhecimento social. O Brasil, apesar da sua extraordinária miscigenação, ainda sofre com o preconceito e desvalorização de inúmeros costumes, uma vez que escola e sociedade fecham os olhos para o estudo da diversidade nacional. Sendo assim, é necessário discutir essa temática para, com isso, gerar uma maior valorização social.    Convém ressaltar, a princípio, que a cultura é a base da educação social. Sob essa óptica, seja o folclore, sejam as danças populares e a culinária, todas carregam importantes traços do povo miscigenado brasileiro. Exemplo disso é o Carimbó, dança que traz consigo mistura africana, europeia e nativa, além de muitas outras que, com suas características únicas, formam a identidade do país. Nesse sentido, reconhecer que os costumes nacionais não são unidimensionais e que precisam ser explorados e respeitados é o primeiro passo para a construção de um povo harmonioso.     Todavia, cabe salientar que essa valorização se tornou utópica. Diante disso, sabe-se que desde o Período Colonial implantou-se no país o eurocentrismo, sentimento no qual “classifica” o europeu como um povo superior aos demais, depreciando qualquer outra etnia. Tal fato, de acordo com o pensamento do sociólogo Arthur Schopenhauer, de que os limites do campo de visão de uma pessoa determinam seu conhecimento acerca do mundo, ocorre por que a educação básica é deficitária e pouco prepara o cidadão no que tange o respeito ao diferente. Em decorrência desse descaso público, muitas culturas são totalmente esquecidas ou mistificadas – como os indígenas, que geralmente são retratos como povos isolados e únicos, quando na verdade há mais de 300 etnias em seu meio -, gerando frustração e intolerância social.     É fundamental, portanto, reconhecer a mestiçagem pátria e propor medidas capazes de aludir à sua valorização. Para tal, cabe ao Ministério da Educação e Cultura, em parceria com instituições educativas, promover um projeto de “Cultura nas escolas” no qual, por meio de palestras e workshop que envolvam não só os alunos, mas toda sociedade, possam ser debatidos com grupos de diferentes etnias sobre a valorização da miscigenação nacional, de modo que a população possa conhecer aqueles povos que se tornaram esquecidos devido ao etnocentrismo, e com isso possa haver maior altruísmo e valorização social. Aliado a isso, a mídia deve, através de novelas e programas interativos, divulgar as diversas culturas brasileira, a fim de garantir o maior reconhecimento da sociedade. Dessa forma, poder-se-á erguer o povo à sua cultura, como defendido por Simone de Beauvoir.