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Enviada em: 26/06/2017

Lições de Clarice        Clarice Lispector, aclamada escritora do modernismo brasileiro, publicou, na década de 1970, o conto "Felicidade clandestina", De caráter autobiográfico, a história epifânica narra a experiência de uma menina que teve de lidar com uma colega má, que sempre a enganava, mentindo que lhe emprestaria um livro que há muito desejava. Práticas discriminatórias, intimidativas e excludentes perduram no Brasil atual e, por vezes, em escala mais grave que aquela retratada pela autora. Produto de uma cultura que não busca medidas profiláticas contra problemas sociais, o bullying cria raízes e precisa ser combatido.     Faz-se primordial, antes de aprofundar a discussão, compreender a formação do status quo observável. Preconceitos são transmitidos quase que hereditariamente e internalizados no indivíduo. Quando a tal questão somamos a negligência parental, a problemática avoluma-se. É comum encontrar justificativas inconsistentes para a violência: muitos familiares preferem crer que a prática será salutar e responsável por produzir "adultos fortes". Constata-se, contudo, a existência de consequências opostas, que afetam profundamente o desenvolvimento de jovens e crianças.       O bullying é prejudicial tanto a quem sofre quanto a quem pratica, de modo a transfigurar um ambiente de respeito e aprendizagem em local de medo e apreensão. A vítima pode desenvolver transtornos psicológicos, como depressão e distorção de imagem e consciência individual, acompanhados de distúrbios físicos como doenças alimentares e automutilação. Além disso, pode-se citar problemas de socialização, solidão e dificuldade de inserção em grupos coletivos. Mais do que um impasse momentâneo, o bullying mostra-se preocupante e endêmico.       Fica visível, dessa forma, a urgência de concentração de esforços contra tais práticas. Nesse sentido, as escolas, como palcos principais de manifestação da violência, devem promover conversas, palestras e movimentos de integração periódicos para combater o bullying. A família precisa atuar ativamente no ensino de respeito e compreensão, além de manter constante atenção à vida escolar de jovens e crianças. ONGs, por sua vez, podem fomentar oficinas interativas, que estimulem cooperação e entendimento de particularidades e diferenças. O Governo, por fim, precisa adotar medidas claras e diretas, como a contratação de psicólogos nas escolas. A lição de Clarice Lispector em seu conto é clara e o bullying, ainda presente. O que deve deixar de existir nas escolas é uma felicidade que se mostra clandestina.