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Enviada em: 12/09/2017

Macabéa literária       Clarice Lispector é autora de "A hora da estrela", livro em que narra a história de uma jovem nordestina pobre, órfã e privada de necessidades básicas, como higiene, alimentação adequada e carinho familiar. Fora da literatura e em períodos contemporâneos, as marcas da exclusão social continuam presentes no Brasil, assumindo, todavia, nova modelagem e adentrando ambientes essenciais: as escolas. Frente a um status quo utilitarista, que desconhece a gravidade das implicações da problemática atual, faz-se crucial discutir a educação.       Antes de versar sobre os impasses consecutivos do bullying, é imprescindível elencar suas origens em sociedade. Filósofo e teórico social francês, Michel Foucault teorizou a "microfísica do poder", ideia que pode ser estendida ao ambiente escolar. Segundo o pensador, o poder não é concentrado nas mãos de alguns, mas circula em rede - todos os indivíduos exercem-no e sofrem suas ações. Dessa forma, o bullying pode ser entendido com reflexo de reações em cadeia, que podem ter causas e consequências comuns, uma vez que a violência que o estimula também pode impregnar-se na vítima da prática.       Às noções de dominação em instâncias gerais e "microscópicas" pode-se somar os efeitos da impunidade no Brasil: entrave quase que endêmico no país, permite que muitos agressores encontrem apoio na indiferença de autoridades acadêmicas. Além disso, o advento de tecnologias dinâmicas e da internet como meio propagador de informações foi responsável por alterar profundamente a lógica das relações sociais. O conjunto de novos aparatos técnicos acentuam crimes de ódio, de maneira a funcionar como plataforma que impede que a violência se restrinja às escolas. Nascem, então, problemas psicossociais, manifestados por isolamento, dificuldades de socialização e baixa autoestima, que podem ter reflexos físicos, como distúrbios alimentares, mutilações e dismorfia corporal. O bullying prejudica interações coletivas primárias e deturpa um ambiente que deveria dar margem apenas à aprendizagem.       Assim sendo, ficam evidenciadas as correlações de causas e efeitos da problemática vigente. Nesse sentido, escolas e famílias precisam ser aliadas complementares, com objetivo de estimular denúncias e esclarecer a importância do respeito e do uso consciente das tecnologias, através de debates, diálogos e dinâmicas de interação e cooperação. ONGs, por meio da mídia, podem pressionar o poder público e seus órgãos, como o Ministério da Educação, a promover, a curto prazo, campanhas de combate ao bullying, instaurando, por exemplo, psicólogos nas escolas. A luta contra tal problema faz parte de uma caminhada longa, mas fundamental: jovens como Macabéa da obra de Lispector precisam ficar presos unicamente à literatura.