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Enviada em: 30/10/2018

"Bandido bom é bandido morto."       Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro pelo PSOL. Mulher. Negra. Lésbica. Exceção nos espaços de poder instituído, sua atuação era pautada pela defesa dos direitos humanos com ênfase na militância contra o racismo, contra o machismo e contra a violência praticada pelas milícias. Assassinada no dia 14 de março desse ano, com quatro tiros na cabeça, em um atentado ao carro onde estava. A polícia não esclareceu quem matou Marielle e ela não é a única: segundo relatório divulgado em 2016 pela ONG Oxfam, o Brasil é campeão mundial em assassinatos de defensores dos direitos humanos. Doravante, esse processo é histórico, mas agravou-se nos últimos anos pela descrença da população nas instituições públicas, que transforma a cultura do medo em ódio sectário.       Conforme dados do Atlas da Violência, desenvolvido pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 1 em cada 10 assassinatos cometidos no mundo acontece no Brasil, não obstante, só em 2016 foram registrados cerca de 60 mil homicídios no país, dos quais 58% das vítimas eram pretos e pardos. A priori, o assombro com esses números exibe-se na obsessão dos brasileiros com a segurança pública e privada, por meio do erguimento de muros, da instalação de câmeras de segurança e da segregação de negros e de pobres nas periferias, que causa a naturalização do assassinato desses indivíduos, julgados como "bandidos", em um destino manifesto: "se morreu é porque estava envolvido, bandido bom é bandido morto".        A posteriori, a baixa taxa de resolução de crimes pela polícia, elencada à aplicação de políticas públicas voltadas para o cercamento de territórios e para a coação e a punição de infratores, por meio do encarceramento em massa, lato sensu, fortalece o crime organizado nas prisões.Consoante a isso, em detrimento da promoção da vacinação, da democratização de acesso à educação e da implementação do Sistema Único de Saúde (SUS), nenhum plano federal foi estruturado de forma consistente e integrada para reduzir a epidemia de homicídios no Brasil, que cresce a cada ano.        Em síntese, o mito da cordialidade brasileira começa a ser descreditado pela evidência da violência, seja simbólica, seja escancarada. Portanto, é necessário que as Secretarias de Segurança Pública e demais órgãos federativos, implementem planos de ataque à violência, pela modificação da política de drogas, bem como, pelo investimento em inteligência tática e investigação criminal e pelo diálogo com a sociedade e a atuação educacional, visando aculturar jargões e crenças deturpadas, na acreditação das instituições públicas. Com essas medidas, reduzir-se-à em sobremaneira os homicídios e a violência naturalizada. Enquanto isso, procura-se quem matou Marielle Franco.