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Enviada em: 08/10/2018

"O homem nasce livre e por toda parte encontra-se acorrentado". Sob tal ótica, é válido relacionar a frase de Jean Jacques Rousseau com o revés no que tange ao tratamento dado aos idosos, que constituem uma das camadas mais tangenciadas pela sociedade. Destarte, observa-se desafios em detrimento dessa questão e, nesse contexto, é oportuno salientar como a ausência de preparo governamental para lidar com o recente aumento da terceira idade, aliada a uma cultura individualista, são fatores corroborativos nessa problemática, configurando um grave problema social.      Mormente, como consequência dos avanços da medicina, a expectativa de vida da população aumentou mais de 30 anos desde 1940, consoante dados do IBGE. Diante dessa nova conjuntura, fez-se necessária a criação de leis específicas voltadas a essa parcela e, assim, entrou em vigor o Estatuto do Idoso, que estabeleceu que é obrigação do Poder Público, da família e da sociedade garantir a qualidade de vida dos anciãos. Não obstante, tal decreto não é desempenhado eficientemente, posto que são vistos, usualmente, como estorvos, além de não se respeitar todos os anos de contribuição prestados ao Estado. Evidência disso é que, de acordo com o jornal G1, dos asilos existes, apenas 6% são públicos. Dessa forma, concomitantemente à saúde precária, perpetua-se o cenário no Brasil.       Em paralelo, segundo Émile Durkheim, o fato social, por ser a maneira coletiva de pensar e agir, exerce uma pressão coercitiva sobre os indivíduos. Por conseguinte, se uma criança fizer parte de uma agremiação que valoriza somente os interesses individuais e subestima a figura do idoso, ela tenderá a adotar esse comportamento. No Brasil, há uma cultura que relativiza a questão da terceira idade, pela visão estereotipada que os associa à inutilidade. Assim sendo, esse egoísmo é constatado nitidamente na negligência dos filhos em relação aos pais, uma vez que os registros de abandonos e maus-tratos cresceram 16,4% em 2015, segundo dados do Disque 100.       Infere-se, portanto, que ações são necessárias para findar com o desmazelo sofrido pelos idosos no Brasil. É imperioso que os governos Estaduais realizem a construção de asilos públicos, por meio do financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), além do Ministério da Saúde investir incessantemente na geriatria, através de unidades especializadas e repasse de verba para manutenção das já existentes, tudo a fim de acessibilizar e garantir o cumprimento do Estatuto do Idoso. Outrossim, a OMS (Organização Mundial da Saúde), em conjunto com a mídia, deve fazer campanhas acerca do abandono familiar, com o intuito de construir uma consciência empática na sociedade. Sob tal perspectiva, poder-se-á viver em um país em que a visão de Jean Jacques Rousseau já não condiga tanto com a realidade.