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Enviada em: 20/04/2019

Maria Rita Kehl, psicanalista e jornalista, destaca em suas colunas o fenômeno da "teenagização da sociedade", o que, para ela, é reflexo de uma ênfase sistemática dada à juventude e seus atributos físicos e morais em detrimento das gerações mais avançadas. Desse contexto, emerge uma discussão acerca da afirmação e participação dos idosos dentro da sociedade, debatendo sobre seu papel sobre esta nova ótica. Nesse sentido, torna-se vital adotar uma postura - para além do respeito - de valorização do idoso, seja pelo enfrentamento dos estigmas sociais dos quais são vítimas, seja pela promoção de dignidade e reconhecimento que estes merecem.       No que concerne o primeiro ponto, vale salientar que o idoso na contemporaneidade está a mercê de esteriótipos fundamentados em princípios injustos que prejudicam sua vivência em sociedade. Para elucidar esse ponto,Zygmunt Bauman em "44 cartas do mundo líquido moderno" defende que as mudanças características do mundo moderno expandem a incompreensão recíproca entre gerações antigas e novas promovendo o surgimento de uma desconfiança mútua. Posto isso, tal desconfiança inviabiliza atitudes de coesão social e solidariedade entre os membros podendo acarretar na marginalização e estigmatização de um grupo para o outro. Assim, a dicotomização do corpo social compromete a valorização do idoso na medida em que os insere em posição inferiorizada e submissa.       Já em relação ao segundo ponto, é coerente afirmar que o idoso por acumular diversos saberes e experiências, deve ter validadas as suas opiniões e argumentos, merecendo  receber reconhecimentos por elas e valorização por sua história. Entretanto, em "A partida do Trem", de Clarice Lispector, a autora notabiliza que este não é o comportamento da sociedade, a partir da surpresa de Dona Maria Rita, uma senhora velha, com a gentileza oferecida por Ângela, uma passageira que viaja junto a ela no trem. Com base na obra, é perceptível que o idoso é visto como incapaz e é pouco respeitado por suas limitações. Evidencia-se, também, que o conto critica a marginalização do idoso e rompe a tendência excludente da sociedade ao demonstrar a importância da dignidade na afirmação e aceitação pessoal.       A par do que foi exposto, cabe finalizar refletindo em medidas capazes de promover a valorização do idoso na sociedade. No tocante a isso, é dever da mídia, devido seu caráter de influência e mobilização, destinar parte da programação à projetos que conscientizem os setores da sociedade quanto a relevância da afirmação e respeito ao idoso. Isso pode ser feito a partir de mudanças na programação, reportagens e anúncios publicitários em múltiplas plataformas de modo a atingir diversos públicos. Tudo isso apresenta como o objetivo o cultivo da tolerância, ética e solidariedade conferindo ao público idoso dignidade, reconhecimento e voz, democratizando a vivência em coletividade.