Materiais:
Enviada em: 19/02/2018

De acordo com a filósofa política Hannah Arendt, a dignidade do homem só é real quando ele é parte de uma comunidade na qual compartilha responsabilidades. Realizar uma atividade profissional, além de prover o sustento necessário para subsistência, pode possibilitar a um indivíduo oportunidades de desenvolvimento pessoal e de contribuição para sua comunidade. Contudo, tais benefícios consequentes do trabalho estão longe da realidade de milhares de brasileiros, que enfrentam diariamente jornadas que os tornam alienados em relação aos acontecimentos da própria sociedade em que vivem.        Uma vez que estão inseridos em um círculo vicioso de trabalho e pagamento de contas, esses trabalhadores têm sua avaliação crítica sobre os aspectos sociais que os circundam restringida. Consequentemente, são muitas vezes considerados “massa de manobra” e facilmente convencidos por discursos ideológicos que gerem esperança de melhor qualidade de vida. Para essas pessoas o trabalho não contribui para a construção de sua dignidade, e sim as torna cegas para questões diretamente relacionadas a elas.        Desse modo, torna-se inviável desenvolver-se e contribuir efetivamente para melhorias que atinjam o coletivo, pois as perspectivas estabelecidas apenas alcançam o final do mês, o recebimento do salário, a quitação de dívidas. Não há ambiente propício para aspirações como realização profissional ou modelos ideais de sociedade, e tal qual a famosa cena do filme “Tempos Modernos”, de Charles Chaplin, os indivíduos são reduzidos a uma mera engrenagem em um todo que não vislumbram.         Sendo assim, conclui-se que o trabalho por si só não garante dignidade. Para ser uma ferramenta na construção de uma vida mais digna, é necessário que ele não seja um empecilho para a participação do proletariado nas questões políticas de seu meio. Visando tornar acessível a participação da classe trabalhadora na gestão pública, o Governo deve descentralizar sua administração, abrindo espaço para que organizações sociais, formadas por cidadãos de todas as classes sociais, direcionem as ações a serem priorizadas e implementadas. Para que isso seja possível é preciso, ainda, que se garanta a liberação de uma parcela da carga horária de trabalho para comparecimento a Assembleias e debates.