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Enviada em: 26/06/2017

Jerônimos desintegrados       Aluísio Azevedo, importante escritor brasileiro, publicava, no século XIX, sua obra mais famosa: O Cortiço. Concentrando uma visão naturalista e determinista, o autor descrevia uma série de personagens-tipo, entre eles, o português Jerônimo, que viera ao Brasil com a família em busca de trabalho, mas logo foi corrompido pelo meio que o cercava. Contemporaneamente, ainda observamos complexidade quando discutimos a questão do imigrante. A problemática difere da do romance apenas em "tema" imediato e reflete um multiperspectivismo capaz de levantar uma dialética que precisa ser analisada.        Antes de debruçar-se ao estudo de tal situação, faz-se necessário entender as contradições que a envolvem. Embora o Brasil seja um país conhecido por sua miscigenação característica, é evidente o preconceito em suas mais diversas facetas às etnias que apresentam as maiores taxas imigratórias a nosso país: os "vizinhos" da América Latina. Discriminações culturais, linguísticas e religiosas são apenas metonímias da problemática atual e demonstram a persistência de ideias arcaicas, que remontam a um passado histórico repleto de máculas de teorias sociais e da necessidade de manutenção de poderes. Além disso, entram em cena dificuldades administrativas e políticas, que criam impasses que se somam a antigos.       A imigração mostra-se extremamente dificultosa a países como o Brasil, que encontra entraves na administração de suas fronteiras e quase que negligência no atendimento de súplicas e necessidades do próprio povo. Absorver grandes fluxos de mão de obra, controlar o processo e lidar com a imigração ilegal no país, não são problemas novos, mas se intensificam na modernidade e denotam a urgência de novas posturas tangíveis ao contexto vigente. Entendermo-nos simplesmente como o país da cordialidade não basta por si só e há muito vem gerando sinais de crise.        Fica evidente, dessa maneira, que a questão imigratória requer análise profunda e posicionamento claro. Assim sendo, ONGs podem atuar no auxílio de imigrantes vítimas de preconceito e exclusão e ajudá-los na denúncia de discriminações. A família deve ensinar o respeito e a tolerância e a escola pode auxiliar nesse processo, promovendo debates, projetos culturais e estudo de etnias. Por fim, o poder público precisa investigar casos e fiscalizar a legalidade das imigrações. Com cooperação geral, a boa recepção pode acompanhar a administração atenta e respeitosa e não teremos um país de "Jerônimos" em desintegração.