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Enviada em: 01/07/2017

Inverossimilhança de Machado de Assis e Lima Barreto       "O homem que sabia javanês", conto escrito pelo autor pré-modernista Lima Barreto, talvez seja o retrato caricatural mais fiel do indivíduo brasileiro: Castelo, personagem principal, narra, debochadamente, como conseguiu enganar um rico senhor e adquirir notoriedade e heranças sem possuir o mínimo de conhecimento sobre o idioma a que se candidatara professor. O Brasil pós-moderno não difere das histórias elaboradas em séculos anteriores e, diante da insistente combinação álcool-volante, posicionamentos sérios de análise e discussão precisam ser adotados.        Para compreender a problemática vigente, faz-se crucial dissecá-la e recorrer ao passado histórico da sociedade em que esta se insere. Já no século XIX, Machado de Assis parecia alertar sobre a postura brasileira ao apresentar-nos Brás Cubas, personagem avesso a "transmitir o legado de nossa miséria". De fato, os âmbitos sociais do Brasil denotam impasses graves, derivados de mentalidades antigas e enraizadas. Embora a Lei Seca tenha reduzido o número de vítimas de acidentes, a falta de responsabilidade social ainda está presente no imaginário individual e coletivo.        A conscientização é massiva e a ciência da proibição de dirigir sob efeito de álcool, ampla entre os cidadãos. Há, contudo, um preocupante abismo entre conhecimento da norma e seu cumprimento efetivo. É possível destacar, entre as causas dessa questão, a relação de ambivalência do brasileiro com a tão debatida impunidade. Apesar de criticar de forma veemente a falta de punição para políticos corruptos, o "cidadão comum" do Brasil aprende a usar tal status quo a seu favor desde cedo. O cunhado "jeitinho" já sinaliza há muito suas consequências sociais negativas.        Torna-se clara, dessa maneira, a urgência de profundas mudanças quando observamos a persistência dessa perigosa combinação. Nesse sentido, escolas e famílias, atuando em conjunto, devem investir na educação de jovens e crianças, de forma a estimular o senso crítico e incutir a noção de responsabilidade social, através de discussões, conversas, palestras e debates. A mídia, por sua vez, pode investir em campanhas inteligentes, que combatam crimes do gênero e, em parceria com ONGs, promover projetos de integração e adesão da população nessa luta atual. O caminho a ser trilhado é longo, mas construirá um país em que as considerações de Machado de Assis e Lima Barreto são inverossímeis.