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Enviada em: 04/04/2019

Em “Conto de Aia”, livro que relata a história de um futuro distópico, as mulheres são submetidas a um domínio, controle e abuso pelas altas patentes masculinas do Estado, marcando um nítido regresso à sociedade dos séculos passados. No cenário brasileiro, a Constituição Federal garante a igualdade de direitos entre os gêneros. Porém, apesar da equidade existir em teoria e de haver leis que respaldam a segurança da mulher, na prática elas ainda são vistas como seres inferiores, sendo violentadas e abusadas, sendo, pois, a sociedade brasileira marcada em estado de aceleração retrógrada.   Em princípio, verifica-se que a cultura do país ainda têm seus traços patriarcais machistas. Dessa forma, já na infância, as meninas são ensinadas à padronização do “bom comportamento”, intrinsecamente baseado na ideia de que as mulheres devem se submeter ao homem. Uma vez que, aproximadamente metade dos casos de violência ocorre no ambiente doméstico, muitas crianças presenciam os atos e acabam por acreditar que esse é o padrão a ser seguido, podendo vir a reproduzir os mesmos equívocos quando em vida adulta. Em outros casos, as próprias crianças são vítimas e não sabem, por não receberem nenhuma forma de educação a respeito. Então, é evidente que a herança cultural manipula o comportamento social.   Além disso, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), 52% dos casos de violência contra as mulheres, ocorridas em território nacional, não são denunciadas, sendo grande parte desses por estarem presas à cultura do medo. Isso se deve, graças às ameaças que recebem dos homens, que, junto ao sensacionalismo da mídia, amplia a sensação de amedrontamento. Porém, em outros casos, quando a denúncia ocorre, além de sofrerem com a abstenção do crime, já que este não se enquadra em crime inafiançável, as mulheres ainda, por muitas vezes, carregam a culpabilidade das supostas relações de poder, com a sociedade inferindo que seus comportamentos estão equivocados e que eles devem ser alterados, vitimizando, enfim, o agressor.  Logo, não há como negar que as leis se tornam insuficientes em uma Democracia de privilégios masculinos. Então, as escolas devem garantir o acompanhamento psicológico das crianças que nela estão, por meio de conversas, baseadas na conscientização, assegurando que as crianças não julguem normal ver ou sofrer a violência doméstica, sabendo que podem conversar com alguém, para que a situação seja solucionada. Ademais, as ONGs e a iniciativa privada podem juntas investir em projetos como o “Mãos empenhadas”, no Mato Grosso do Sul, em que os profissionais de salões de beleza recebem treinamentos para identificar e ajudar mulheres vítimas de violência, a fim de garantir, por fim, que a sociedade brasileira consiga desviar seu caminho do futuro distópico explorado pela literatura.