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Enviada em: 17/03/2019

Em 2017, explodiu nas redes sociais americanas o movimento Me Too (eu também), uma reação em cadeia de mulheres abusadas e que incentivaram outras a também denunciar assédios e estupros sofridos anteriormente. O movimento também respingou no Brasil, que sofre com a escalada da violência contra a mulher, desde agressões verbais até o feminicídio, tipificação de assassinato cometido pela condição da vítima ser mulher. O país, que carrega em seu cerne uma forte herança patriarcal, não consegue estes tipos de crimes, em sua essência, motivados pelo machismo e impunidade aos transgressores, majoritariamente homens de relacionamentos anteriores ou atuais da vítima e que resulta em quase cinco mil mulheres mortas anualmente.       Em primeira análise, existe forte resistência de pensamentos misóginos e uma figura feminina ainda  idealizada. No movimento literário romântico brasileiro do século XIX, mulheres que cometiam adultério ou faziam sexo antes do casamento eram castigadas nas obras, como a personagem Lúcia, do livro Lucíola, de José de Alencar. A personagem, grávida fora do casamento, considera-se impura e sente que precisa morrer para gerar um filho digno. Tal mentalidade de casticidade ainda é onipresente e, na vida real, o julgamento da mulher que deseja ser livre é perpetrado por homens, na forma de relacionamentos abusivos que resultam em sofrimento psicológico, físico e mesmo morte.       Ademais, o livre poder de homens sobre corpos femininos ocorre, especialmente, pela ausência de proteção efetiva dada as mulheres em situação de risco. Adotada em 2006, a Lei Maria da Penha, têm sido uma das principais ferramentas para amparar àquelas que sofrem com seus parceiros. Entretanto, dados do Conselho Nacional de Justiça, mostram que somente um terço dos casos é julgado, imperando a impunidade. Somado a vulnerabilidade socioeconômica, pois muitas mulheres, além do medo, têm filhos com seus algozes ou dependem de seus salários para sobrevivência, resultam em descrédito e inocuidade do combate à este tipo de violência no país.        Portanto, diante do quadro persistente de crimes, deve-se priorizar o combate a estes com eficiência judicial e inovação. Uma tecnologia que pode ser utilizada é tornozeleiras eletrônicas, instaladas tanto no homem agressor, quanto na vítima. Caso haja proximidade, aciona-se a central de polícia e informa-se o risco via telefone. A alternativa, iniciada em Pernambuco, deve ser difundida em todo o país pelo Ministério da Justiça e Cidadania, além de agilizar os processos e evitar crimes graves. A ferramente deve vir junto com o empoderamento feminino, que deve ser encorajado a ser ensinado em escolas e na mídia, como telenovelas.Somente diante de medidas mais incisivas o país pode proteger, de maneira eficiente, as mais de cem milhões de brasileiras que anseiam uma vida segura.