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Enviada em: 09/06/2019

A série brasileira “Coisa mais linda” retrata o cenário do Rio de Janeiro em 1959. A sociedade, marcada pelo patriarcalismo, evidencia a prevalência de uma lógica sexista, na qual as mulheres são constantemente inferiorizadas. Na trama, Augusto Soares é um político possessivo e ciumento, que agride regularmente Lígia, sua esposa, como uma tentativa de demonstrar domínio e superioridade. Sessenta anos depois, é evidente a persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira seja pelo legado histórico-cultural - que se apoia no enraizamento do poder masculino -, ou pelo desrespeito à legislação vigente.         Em uma primeira instância, observa-se a perpetuação de traços patriarcais machistas na cultura brasileira. A formação da criança é, portanto, pautada em valores padronizados, que destacam a submissão da mulher ao homem. Uma pesquisa realizada pela Datafolha em 2019 revelou que 42% dos casos de violência contra a mulher ocorrem no ambiente doméstico. Neste sentido, o testemunho aos atos desde a infância contribui para o desenvolvimento de um pensamento abusivo, que subestima e normaliza os efeitos da agressão, seja ela física, psicológica ou de qualquer outra ordem. Percebe-se, então, a influência da herança cultural na manipulação do comportamento social.      Outrossim, é importante ressaltar que na maioria dos casos, o poderio dos homens ocorre, especialmente, pela ausência de uma proteção efetiva às vítimas. A despeito da existência da Lei Maria da Penha, principal ferramenta de apoio às mulheres violentadas, dados do Conselho Nacional de Justiça demonstram que somente um terço dos casos é julgando, o que evidencia a prevalência de uma impunidade. Além disso, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), apenas 48% dos atos de violência são denunciados. A cultura do medo, ampliada pela invisibilidade da mulher na sociedade brasileira, impossibilita a denúncia, o que culmina, muitas vezes, no feminicídio.        Destarte, torna-se imprescindível a adoção de políticas mediadoras a fim de contornar essa realidade. Buscando obter uma maior segurança para as mulheres agredidas e, consequentemente, encorajamento à denúncia, urge que o Ministério da Justiça e Cidadania promova a instalação de tornozeleiras eletrônicas tanto nas vítimas quanto no agressor; caso haja proximidade, a polícia deverá ser acionada. A medida não só evitará a incidência de novos crimes, mas também irá agilizar os processos em andamento. Somado a isto, cabe à mídia encorajar o empoderamento feminino e o interesse da população por meio da abordagem do tema em séries, filmes e novelas. Destarte, o Brasil deixará de conceber mulheres oprimidas como Lígia Soares e se distanciará cada vez mais da realidade retratada pela série.