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Enviada em: 22/06/2019

A série brasileira “Coisa mais linda” retrata o cenário do Rio de Janeiro em 1959. A sociedade, marcada pelo patriarcalismo, evidencia a prevalência de uma lógica sexista, na qual as mulheres são constantemente inferiorizadas. Na trama, Augusto Soares é um político possessivo e ciumento que agride regularmente Lígia, sua esposa, como uma tentativa de demonstrar domínio e superioridade. Sessenta anos depois, é evidente a persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira, seja pelo legado histórico-cultural - que se apoia no enraizamento do poder masculino -, ou pelo desrespeito à legislação vigente.        Em uma primeira instância, observa-se a perpetuação de traços patriarcais machistas na cultura brasileira. A formação da criança é, portanto, pautada em valores padronizados que destacam a submissão da mulher ao homem. Uma pesquisa realizada pela Datafolha, em 2019, revelou que 42% dos casos de violência contra a mulher ocorrem no ambiente doméstico. Neste sentido, o testemunho aos atos desde a infância contribui para o desenvolvimento de um pensamento abusivo, que subestima e normaliza os efeitos da agressão, seja ela física, psicológica ou de qualquer outra ordem. Percebe-se, então, a influência da herança cultural na manipulação do comportamento social.        Outrossim, é importante ressaltar que na maioria dos casos, o poderio dos homens ocorre, especialmente, pela ausência de uma proteção efetiva às vítimas. A despeito da existência da Lei Maria da Penha, principal ferramenta de apoio às mulheres violentadas, dados do Conselho Nacional de Justiça demonstram que somente um terço dos casos é julgado, o que evidencia a prevalência de uma impunidade. Além disso, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), apenas 48% dos atos de violência são denunciados. A cultura do medo, ampliada pela invisibilidade da mulher na sociedade brasileira, impossibilita a denúncia, o que culmina, muitas vezes, no feminicídio. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a taxa de assassinatos no Brasil é a quinta maior do mundo.       Destarte, torna-se imprescindível a adoção de políticas mediadoras a fim de contornar essa realidade. Na busca pela diminuição da reincidência do crime no Brasil, é necessário que o Poder Legislativo crie um projeto de lei direcionado à intensificação da punição dos agressores. Com o intuito de assegurar o atendimento adequado às vítimas e a punição correta dos agressores, cabe ao Governo ampliar a atuação dos órgão competentes; O Estado, em parceria com ONGs, deverá garantir encaminhamento dos casos de agressão às Delegacias da Mulher e a fiscalização rigorosa do andamento dos processos. Assim o Brasil deixará de conceber mulheres oprimidas como Lígia Soares e se distanciará cada vez mais da realidade retratada pela série.