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Enviada em: 13/04/2017

De acordo com Immanuel Kant, uma sociedade ética é aquela que prioriza o bem estar de todos. Entretanto, no Brasil, a persistência da intolerância religiosa vai de encontro a esse pensamento, uma vez que promove a segregação de parte da população. Sendo assim, urge o combate a essa prática, que deve passar pela confrontação da naturalização histórica da violência e pelo enfrentamento da impunidade.       Com efeito, o conturbado processo de desenvolvimento sociocultural do país corrobora com o problema. Na obra "Sobrados e Mucambos", o historiador Gilberto Freyre demostra que a violência, a diferenciação e a discriminação são realidades presentes desde a fundação nacional. Nesse contexto, de falência de valores éticos, a intolerância religiosa encontrou um campo propício para se desenvolver e se infiltrar nos mais diversos âmbitos sociais. No Congresso Nacional, por exemplo, existe a "bancada religiosa", que, apesar da exigência legal de laicidade do Estado, sempre procura aprovar leis que restrinjam a liberdade de crença de certos cultos, principalmente os não cristãos.      Outrossim, o combate a essa chaga social é minimizado pela indulgência para com os que a praticam. De fato, para o célebre jurista Cesare Beccaria, "a sensação de impunidade" não só perpetua como também estimula o crime. Recentemente, um portal de notícias da internet reportou que uma menina, vestida de branco, em uma sexta-feira, foi apedrejada e humilhada por indivíduos que a chamavam de "negra macumbeira". Contudo, apesar desse tipo de fato ser recorrente, os agressores , tanto desse caso quanto de outros, raramente são responsabilizados. Dessa forma, a impunidade vai abrindo caminho para novas práticas de velhas violências, principalmente contra adeptos de cultos afro--brasileiros.     Portanto, é preciso encontrar caminhos que forneçam meios de desconstrução da violência naturalizada e da impunidade. Por isso, a sociedade organizada, aliada às famílias e às escolas, precisa resgatar valores éticos caros à vida e à dignidade humana, para que, assim, essa agressão não encontre terreno fértil para se enraizar. A promoção de debates e atos culturais irá ajudar nesse sentido, desde que tenham como foco a divulgação da tolerância, da isonomia e do respeito às diferenças. Por outro lado, o Poder Judiciário deve ser mais rigoroso na aplicação das penas e cobrar uma maior eficiência nas investigações das denúncias. Nesse viés, o Estado também pode ajudar, criando delegacias especializadas para esse tipo de crime. Desse modo, poderá ser construída uma sociedade que irá ao encontro do que desejava Kant.