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Enviada em: 05/06/2017

Um exercício necessário Aceitar ou suportar determinada religião não significa se converter a ela. Também não significa concordar com suas crenças, com seus livros sagrados ou seus líderes. É possível criticar e até mesmo colocar-se em posição contrária suportando a religião do outro, ou a falta dela. Tolerar implica respeitar e acima de tudo ter um convívio pacífico com aqueles que pensam ou acreditam de maneira diferente. A intolerância religiosa no Brasil é, em parte, consequência dessa confusão comum, desse entendimento errado de que aceitar significa concordar. Da mesma maneira, colocar-se em oposição não significa criticar de forma agressiva. Há aqui outra confusão: a não diferenciação entre liberdade de expressão e agressão. A primeira requer reflexão e posicionamento respeitoso. Envolve mais discorrer sobre seus próprios pensamentos e crenças e menos criticar as pessoas. A agressão, ao contrário, tem por objetivo a ofensa ao outro. Vale-se geralmente da crítica rasa, da reflexão rasteira, seguida da agressão à pessoa. Confunde-se a pessoa com suas crenças e ideias, critica-se o religioso e não a religião. Para agravar a questão, o Estado, constitucionalmente laico, nem sempre se apresenta assim. É comum a presença de objetos e símbolos religiosos em prédios públicos como tribunais e até mesmo no Congresso Nacional. Noticiou-se o uso de grande quantidade de dinheiro público na organização de eventos relacionados à vinda de determinado líder religioso ao Brasil. Igrejas não recolhem impostos ao Estado. Não faltam exemplos da influência da religião nas ações do Estado, o que contraria a laicidade prevista na Constituição. Não obstante, há certo grau de racismo na intolerância religiosa percebida no Brasil. O número de denúncias feitas por fiéis de religiões afro-brasileiras é significativamente maior, possivelmente reflexo de outro tipo de intolerância histórica e endêmica no Brasil: a intolerância racial, especialmente à raça negra e seus costumes. A aplicação plena da legislação, que pune crimes contra o sentimento religioso, é imprescindível. Porém, falta-nos compreender que valores positivos não são atributos exclusivos dessa ou daquela religião, e que a falta de religião não significa a ausência de valores. Falta-nos ainda exercitar. A liberdade de expressão deve ser compreendida, porém, fundamentalmente exercitada para que não seja confundida com ofensa e agressão. Enfim, esse exercício deve ser estimulado pela família, pela escola, pelo Estado e pelos líderes religiosos que tanta influência ainda têm sobre o povo brasileiro.