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Enviada em: 05/01/2019

Em “A República”, Platão conta que os homens estão presos em uma caverna vendo apenas as sombras do mundo. Talvez hoje ele constatasse sua metáfora: a manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet é uma das piores chagas de uma sociedade em desenvolvimento. Com isso, configura-se uma problemática desafiadora que prossegue inerente à realidade global, seja pela insuficiência de leis, seja pela retrógrada mentalidade social.        Mormente, é importante ressaltar que esse problema é estruturado por questões políticas. Nesse contexto, a tese aristotélica disserta que a felicidade coletiva é alcançada quando existe justiça na sociedade, atribuindo-se ao governo o dever de manter tal ordem. De maneira análoga, na contemporaneidade, o Estado tem contestado essa premissa, haja vista os frequentes casos de empresas que, infelizmente, utilizam ferramentas virtuais para filtrar dados fornecidos pelos usuários na internet, a fim de, posteriormente, induzí-los a utilizar determinados produtos. Destarte, em prol do combate à problemática, torna-se imprescindível a adoção de medidas legislativas que inibam esse delito.        Outrossim, convém ressaltar o papel social como agravador do impasse. Segundo o conceito de virtude, discutido na filosofia da Antiguidade por Sócrates, os erros do homem são frutos da sua insciência. Sob tal ótica, observa-se que a manipulação do usuário pela internet, decerto, tem ido de encontro ao postulado filosófico, uma vez que, vedado pela influência tecnológica, o indivíduo torna-se mais vulnerável a expôr seus dados e ser controlado por aplicativos. À vista disso, a falta de conscientização social funciona, indubitavelmente, como forte base desse tipo de injustiça.        Urge, portanto, a solidificação de políticas públicas que visem a alterar essa realidade. Posto isso, cabe ao Estado, por seu caráter socializante e abarcativo, implementar leis, bem como multas, referentes à filtragem de informações dos usuários, com o fito de criminalizar exclusivamente essa desumana prática capitalista. Paralelamente, organizações governamentais de segurança e cultura devem promover campanhas de abrangência nacional, com o intuito de informar à população o quão exposto se torna um indivíduo que divulga seus dados e interesses na internet. Por fim, para atingir um público maior e gerar debates sobre a questão, é dever da coletividade divulgar tais campanhas. Somente assim, o tecido social desprender-se-á gradativamente dessa realidade das sombras, como na Alegoria de Platão.