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Enviada em: 19/08/2017

Condenação e esterilização       Autor que desponta na segunda fase do modernismo brasileiro, Carlos Drummond de Andrade escreve o poema "Congresso Internacional do Medo" em um mundo que começa a mostrar sinais de suas crises mais problemáticas. Em seu texto, o poeta "canta" o medo e o ódio, sentimentos que, segundo ele, "esterilizam os abraços". Contemporaneamente, a temática de Drummond ainda assola sociedades e é representada pelo solapamento das noções de coletividade, impasse que merece ser colocado em análise crítica.        Jean Paul Sartre, filósofo francês, afirmou que "o homem está condenado a ser livre". Através de uma ideia paradoxal, o pensador existencialista desfere às concepções humanas críticas evidentes e que podem ser trazidas à análise do contexto atual. O senso de liberdade "a todo custo" provoca como principal consequência a elevação do "eu" à categoria de divindade e a satisfação dos desejos puramente individuais, a uma necessidade imediata. Dessa forma, o conceito de livre-arbítrio deturpa-se no imaginário individual e abandona seu sentido crucial: a aquisição de posturas questionadoras com objetivo de derrubar entraves que engessam a cooperação social.       Os meios comunicativos, muitas vezes, reforçam a criação da nova multidão de isolados. A internet, cujo aclamado advento renova diversas interações, é ambivalente e, a todo momento, revela suas contradições mais gritantes: embora seja ferramenta importante de exercício de cidadania, é comum que debates transformem-se em discussões inflamadas e surdas, que acentuam a intolerância. Tais discursos de ódio, por sua vez, envolvem o indivíduo em uma "bolha" digital e o tornam alheio à pluralidade de reflexões e à urgência de adesão social.        Assim sendo, fica clara a importância do engajamento coletivo e sua contraditória escassez na contemporaneidade. Nesse sentido, a atuação de escolas e famílias faz-se essencial e deve ser pautada pelo ensino da necessidade de respeito, convivência harmoniosa e solidariedade, por meio de jogos, palestras, debates e diálogos. O poder público precisa agir constantemente na fiscalização e aplicação das leis aos meios virtuais, para que estes sejam, de fato, ambientes de criticidade e livres manifestações. A cooperação social não será atingida enquanto aglutinarmos a "liberdade condenada" de Sartre e os "abraços esterilizados" de Drummond: a união é o primeiro passo.