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Enviada em: 31/10/2018

"Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, cegos que veem, cegos que vendo não veem". O excerto da obra modernista "Ensaio sobre a Cegueira" de José Saramago, critica, por meio do uso de metáforas, a alienação de uma sociedade que se torna invisual. Fora do universo literário, tal obra atemporal não foge da cegueira contemporânea na qual o tecido social brasileiro não enxerga os fenômenos dos "rolezinhos". Nesse aspecto, dois fatores são relevantes: a inobservância governamental e a herança sociocultural.      Em primeiro plano, o descaso estatal promove subterfúgios ao quadro vigente. Destarte, o iluminista Rosseau, no contexto da Revolução Francesa, afirma o papel do Estado em garantir igualdade jurídica. Contudo, a prática deturpa a teoria, embora o direito de ir e vir, e a liberdade de expressão seja garantido na Constituição Federal de 1988, para muitas pessoas isso não ocorre. Em virtude da negligência do governo e o preconceito contra os jovens, principalmente de periferias, que os seguranças não permitem a entrada deles nos shoppings - apesar de ser um estabelecimento público - seja para encontrem com seus ídolos funkeiros, seja para passearem nos centros de compras. Dessa forma, é inadmissível que às demandas sociais retratadas no século XVIII persistam nos dias atuais.           Outrossim, não obstante, bases intrínsecas corroboram na invisibilidade da questão. Isso ocorre pela forte presença da criminalização do funk que ainda é visto como ritmo musical de baixo calão, além do estereótipo de "todo funkeiro é bandido" e "funk ostentação é para ladrão" subverte no aumento da intolerância e o impasse contra o encontro dos ''rolezinhos''. Análogo a isso, a sociedade, então, por tender a incorporar as estruturas sociais que são impostas à sua realidade, conforme defendeu o sociólogo Pierre Bourdieu, naturalizou e reproduziu o pensamento como algo passível e alheio de soluções. Dessa maneira, não é à toa que os encontros do funk nos centros públicos sejam descriminalizados, segundo o site Empresa Brasil de Comunicação.      Torna-se evidente, portanto, que os fenômenos dos ''rolezinhos'' representam uma problemática na malha brasileira. Para tanto, cabem ao Ministério da Cultura, em parceria com os municípios, criar um projeto para combater essa intolerância, por intermédio de adotar a atuação e administração pública nos encontros com os cantores de funk, para que o encontro sejam mais seguros, não atrapalhem a população e com menos discriminado esse gênero musical. Nessa ação, é mister a participação da segurança municipal para promover isso, com o intuito de serem realizados em locais que não impeça a circulação de outros cidadãos, como exemplo o carnaval de rua que é gerenciado pelo governo. Desse modo, será combatido a cegueira dita por Saramago.