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Enviada em: 17/09/2017

Primeiros passos       Do fim do século XVIII até meados do século XIX, os saraus foram os principais palcos de encontro e entretenimento dos jovens burgueses do Brasil, inspirando muitas histórias românticas, como "A Moreninha", de Joaquim Manuel de Macedo. Contemporaneamente, adolescentes do país descobriram novos pretextos e mecanismos de reunião: os "rolezinhos" - e todas as contradições que trazem consigo - retratam a emergência de interações coletivas que precisam ser posicionadas em análise crítica.        Antes de discutir, de fato, o fenômeno em questão, faz-se necessário entender seus contextos originais. O francês Augusto Comte foi precursor do estudo da sociologia e da ideia do positivismo, a necessidade de busca quase que insaciável por progresso. Dessa maneira, muitas de suas noções embasaram pressupostos eugenistas e naturalistas, que vigoraram no Brasil durante boa parte dos séculos XIX e XX. Ao desenvolverem suas relações com o status quo paralelamente, as esferas coletivas marginalizadas alimentaram posturas de protesto à indiferença social e à exclusão, que ainda maculam parcela significativa dos espaços públicos atuais.       Posto que concepções utilitaristas, etnocentristas e unidirecionais - como as de Comte - ainda regem as organizações em sociedade, movimentos de afirmação sociocultural são, em essência, salutares à construção de interações mais justas. Todavia, o impasse cresce quando observa-se o grave aumento da criminalidade junto a encontros juvenis, aspecto que deposita a temática em uma dicotomia e parece torná-la condenável para setores extremistas. Consecutivamente, a polarização social avoluma-se e encerra, cada vez mais, indivíduos em seus velhos hábitos, seccionando o propósito inicial de intercâmbio de costumes.       Assim sendo, ficam evidenciados os entraves que circundam os "rolezinhos" como movimento coletivo urbano. Nesse sentido, ONGs, encontrando apoio na mídia, podem divulgar campanhas inteligentes e engajadas, que condenem o preconceito e estimulem, a longo prazo, a compreensão da importância de reuniões culturais. O poder público, através de órgãos de fiscalização e justiça, deve entender a complexidade dos encontros, permitindo que estes ocorram, mas aplicando as leis aos eventuais casos de violações. O caminho a ser trilhado rumo à atenuação das contradições é lento, porém não é utopia: compreender as novas organizações sociais é o primeiro passo para torná-las possíveis.