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Enviada em: 02/06/2019

Na obra “República”, o filósofo Platão discorre sobre a necessidade das crianças serem educadas pelo Estado e longe dos pais. Contudo, essa ideia apresenta-se cada vez mais rejeitada, uma vez que os debates sobre a educação domiciliar estão em ascensão no Brasil. Nesse sentido, cabe verificar os prejuízos do “homeschooling”, visto que essa medida pode gerar um aumento da segregação social e colocar o poder estatal em segundo plano.    Em primeira análise, é importante notar que a adoção do ensino em casa corrobora as desigualdades socioeconômicas. Sob essa perspectiva, apenas uma pequena parcela da população possui poder aquisitivo para contratar tutores e, feito isso, os indivíduos são lecionados em um ambiente restrito, onde não há interação com pessoas de realidades diferentes, o que gera uma visão individualista e unilateral das vivências. Além disso, muitos pais, os quais não possuem recursos para contratar professores, precisam trabalhar em período integral e, consequentemente, a aprendizagem das crianças é prejudicada pela falta de tempo e instrução para ensinar. Assim, essa situação seria responsável por criar desníveis educacionais no país, uma vez que o ensino não seria padronizado e a renda seria um critério de sua qualidade.     Ademais, é válido averiguar que a educação domiciliar ocasiona uma fragilização do dever do estado. No atual contexto neoliberal, diversas medidas são realizadas para diminuir a interferência estatal. Entretanto, é necessário impor limites a essa ideologia, sobretudo no que tange às práticas escolares, pois a escola é fundamental para a interação social e para a criticidade do aluno. Nesse viés, as ações governamentais devem ser feitas no sentido de melhorar a qualidade da educação pública para se adequar as novas realidades, e não para transferir esse direito educacional, garantido na Constituição Federal de 1988, para a sociedade civil.     Portanto, a observação crítica dos fatos sociais reflete a urgência de medidas para proporcionar a melhora das instituições de ensino, ao de invés desprezá-las. Para isso, é essencial a ação do Governo em priorizar e aumentar o repasse de verbas para o Ministério da Educação, com o intuito de planejar uma formação escolar otimizada dos alunos, ao fornecer uma nova base curricular, adequada a nova realidade tecnológica, e proporcionar infraestrutura apropriada ao ensino. Isso deve ser feito para que as escolas consigam cumprir o seu papel de formação cidadã e minimizar as aspirações pela educação domiciliar por parte da população. Sendo assim, será possível concretizar as bases do ensino propostas na filosofia platônica.