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Enviada em: 18/10/2017

Conforme defendeu o geógrafo Milton Santos, o fenômeno da globalização foi responsável por acentuar o hipercapitalismo e, consequentemente, a fome e a pobreza no mundo. Sob essa conjectura, é factível afirmar a influência da concentração de renda desse sistema econômico na problemática da subnutrição no contexto atual do século XXI. Logo, é preciso modificar este cenário - seja para tornarem-se exequíveis os direitos sociais previstos pela Constituição, seja para desconstruir a cultura da negligência diante dessa realidade mundial.        Em primeiro lugar, é necessário pontuar como essa questão social se enraizou historicamente no Brasil. Como analisou o filósofo alemão Friedrich Hegel, a história é dinâmica e as verdades a acompanham. Ao estabelecer uma relação entre esse pensamento e o contexto brasileiro, pode-se confirmar uma inconformidade entre ambos, pois, por mais que tenham se passado séculos desde a criação das capitanias hereditárias no Brasil Colônia, a realidade da concentração fundiária ainda se faz presente - retratada nas grandes parcelas de terras dos latifundiários sem cumprir uma função social. Nesta circunstância de assimetria da sociedade, configuram-se não só a acentuação da fome por muitos indivíduos não terem acesso a esses espaços, como também uma violabilidade dos direitos à alimentação e à saúde previstos pela Carta Magna.       Ademais, deve-se salientar o posicionamento do Estado e da sociedade diante da perpetuação da subnutrição no país. Em nível governamental, é vista uma morosidade para a realização da Reforma Agrária - a qual está presente na Lei Maior -, alavancada pela grande influência da bancada ruralista no Congresso Nacional. No viés social, os estigmas de individualismo corroborados pelo caráter efêmero das relações interpessoais - como presumiu Zygmunt Bauman -, acarretam uma naturalização dessa problemática pelos indivíduos, o que ocasiona uma cadeia de dificuldades - seja no trabalho das Organizações Não Governamentais (ONG's) frente a esse quadro, seja na construção de mentalidades mais solidárias e altruístas no território nacional.      Tornam-se prementes, portanto, mediações para reverter essa questão social. Para tal fim, o Ministério da Justiça, aliado à FUNAI, deve efetivar a Reforma Agrária no país, assentando famílias necessitadas nos locais, dando resguardo financeiro e condições para a habitação, e registrando no cartório, para minimizar a concentração fundiária e a fome. Outrossim, as unidades de ensino devem adotar o modelo de "escola cidadã" - proposta por Paulo Freire -, abrindo debates nas aulas de Sociologia e realizando palestras sobre essa adversidade mundial, para romper com o individualismo e engajar as gerações futuras no problema da fome global.