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Enviada em: 14/10/2017

No filme " Wall-e ", Andrew Staton descreveu um cenário caótico para o futuro terrestre: após poluir a terra, a população viaja pelo espaço, deixando, aqui, um robô encarregado de limpar o entulho para que um dia o planeta possa ser novamente habitado. A princípio, esse seria apenas mais um roteiro da ficção científica. No Brasil, entretanto, o descarte incorreto de resíduos é um problema persistente, especialmente, porque não há o entendimento, por algumas empresas, da sociedade como um conjunto de pessoas interdependentes.        É fato: para que uma comunidade viva em harmonia é importante o engajamento entre seus membros. No entanto, quando se discute a gestão de resíduos em nosso país, percebe-se que esse princípio sempre esteve aquém do desejado. O acidente com o Césio 137 pode ser tomado como exemplo concreto disso: o descaso do Instituto Goiano de Radioterapia causou, além de mortes, problemas de saúde diversos, devido a contaminação radioativa a que as pessoas do local foram expostas. Isso certamente teria sido evitado se houvesse ao menos a informação, no local, de que o material era perigoso.        A partir disso, políticas de destinação correta e segura de resíduos deveriam ter sido aplicadas. Todavia, percebe-se dificuldades de fiscalização, agravadas por algumas empresas, o que contribui à continuidade de práticas inseguras de depósitos de subprodutos. Desse modo, as consequências tomam proporções absurdas, como no caso de Mariana, em Minas Gerais, em que houve a perda de vidas e da biodiversidade de quase toda a bacia hidrográfica da região, ou seja, a ação da minoria afetou um contingente regional de seres vivos. Algo previsível para o sociólogo Émile Durkheim, já que, segundo ele, a sociedade é um "corpo biológico"; seu sucesso, por conseguinte, depende da participação harmônica de cada indivíduo.        Destarte, o contexto ficcional projetado por Staton já pode ser observado em algumas áreas do país. Mudar essa realidade é fundamental. Para tanto, o Ministério do Meio Ambiente precisa elaborar práticas concretas de fiscalização das empresas. É interessante que o órgão desenvolva um grupo de vigilantes, com moradores voluntários do próprio local, em cada município, a fim de obter informações sobre as ações tomadas no depósito e descarte de resíduos de cada empresa. Dessa forma, ficará mais fácil identificar e, sobretudo, conter irregularidades. Esse pode ser um bom caminho para manter a hospitalidade dessa terra, ambientalmente, tão rica.