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Enviada em: 11/04/2019

Consoante John Locke, contratualista britânico, é responsabilidade do Estado garantir um contexto social de primazia à vida de cada indivíduo. No entanto, o aspecto da gestão pública no Brasil revela o quão distante este país se encontra de uma realidade em que tal garantia possua total expressão, uma vez que não há uma administração social que honre esse compromisso e que, de fato, seja voltada às necessidades do povo. De tal sorte, para mudar esse quadro, é preciso ponderar sobre como a lógica escolar conteudista e a impunidade legal vigente implicam na existência desse problema.     Cabe ressaltar, a princípio, que a sistemática educacional inclinada, prioritariamente, ao ensino do conteúdo é fator determinante para a subsistência do entrave em análise. Isso porque sob o norte da demasiada valorização da teoria acadêmica há, automaticamente, o suprimir da oportunidade de criar nos alunos um patrimônio informacional capaz de prover à nação adultos capazes de exercerem plena cidadania. Nesse sentido, Mario Cortella, educador brasileiro, ratifica que escolarizar não é o mesmo que educar. Dessa maneira, formam-se os indivíduos de caráter ético deficitário, porém aptos intelectualmente para alcançarem cargos de gestores e, assim, impossibilitarem a ordem e o progresso expressos na bandeira.     Outrossim, a falta de punição também se configura como causa do obstáculo em comento. Tal afirmação encontra respaldo na notória falta de inibição que os bandidos apresentam nos idos de hoje, o que, por sua vez, possui a sua razão de ser no fato de que as penas para muitos crimes - inclusive os de corrupção - se dissolvem em uma série de benefícios possíveis na Lei. Tendo isso em vista, por conseguinte, legitima-se a máxima - de Albert Camus, filósofo francês - de que não há ordem sem justiça. Em tal cenário, o administrador alienado do que é moral, não possui qualquer empecilho para decidir gerir a favor de si e contra a sociedade.     Pode-se dizer, portanto, que os pontos supracitados alicerçam o referido óbice, devendo, por fim, serem superados. Para tanto, primeiramente, é necessário que o Ministério da Educação transforme o sistema pedagógico em algo mais civilizatório, por meio da inserção, no calendário escolar, de dias voltados ao diálogo entre responsáveis, alunos e corpo docente sobre questões sociais, a fim de instigar nas crianças o desenvolvimento da fraternidade sociológica. Em segundo lugar - mas em igual grau de importância -, o Legislativo deve acabar com a impunidade, por intermédio da retirada de benefícios de redução de pena, para que o Estado possa exercer a coibição do mal. Assim sendo, alcançar-se-á o ideal indicado por Locke.