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Enviada em: 11/04/2017

Madeleine Semelhantemente à experiência de Marcel Proust, que através do sabor de um simples biscoitinho madeleine e um gole de chá conseguiu evocar o passado e lembrar-se de tudo o que precisava para escrever "Em busca do tempo perdido", quase toda pessoa do século XXI, quando olha para uma embalagem jogada na rua, evoca o sentimento de que há algo muito errado com aquilo. A existência de impactos negativos do consumo sobre o meio-ambiente está no inconsciente das populações. Entretanto, o que tem sido feito para combater os efeitos deletérios do consumo ainda é pouco. Sendo assim, é indispensável debater a respeito de um modo de vida e de produção mais sustentável. A relação entre consumo e ambiente é simples de ser feita e por isso é tão intuitiva. Para produzir é necessário insumo e a maioria dos insumos são naturais e, assim, quanto maior o consumo, maiores os problemas. Para piorar, o ato de consumir ganhou uma importância muito grande no fortalecimento das identidades individuais, dificultando, assim, a implementação do consumo moderado. Quem consome mais, é mais valorizado e melhor assimilado pela sociedade. Desta forma, como ser aceito é um desejo mais primordial do que o desejo de "salvar o planeta", a acusação inconsciente da necessidade de consumir de maneira mais sustentável é arrefecida pelo desejo de ser querido. Além disso, as políticas públicas para reduzirem os impactos ambientais do consumo são prejudicadas por conflitos de interesse. Devido as campanhas eleitorais serem financiadas por empresários, ocorre a  comercialização da ação cívica e, assim, os políticos eleitos têm em sua atuação a mistura de ações cívicas com interesses comerciais daqueles que financiaram a campanha. O grande problema disso é que grande parte do empresariado ignora ou dá pouco valor aos meios de produção sustentáveis e manipulam a classe política a fazer o mesmo. Portanto, os impactos ambientais do consumo persistem principalmente devido à arquitetura social do século XXI, onde o homem percebe que tem que consumir para ser aceito, e à comercialização da participação cívica que garante a empresários o poder para perpetuar práticas de produção danosas ao meio-ambiente.  Assim, faz-se necessário ampliar o alcance dos meios de comunicação estatal - que não dependem de propaganda, não havendo conflito de interesse - e promover em suas programações palestras e debates que estimulem o consumo consciente e quebrem o feitiço do "ter que consumir para ser alguém". Ademais, é preciso uma reforma política que não permita o financiamento empresarial de campanhas, pois só assim teremos políticas verdadeiramente voltadas para a redução dos impactos ambientais sem o freio oculto da classe empresarial.