Materiais:
Enviada em: 01/10/2018

A obra "Os Retirantes", de Cândido Portinari, refere-se a um grupo migratório com afinco em fugir da seca nordestina. Tal pintura pode servir de exemplo para ilustrar a escassez hídrica contemporânea, já que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 1 em cada 3 pessoas no mundo não tem acesso a água potável. Os principais fatores responsáveis por essa crise, sobretudo no Brasil, são o desperdício inconsciente e o desmatamento, que reflete diretamente nessa questão. Torna-se paradoxal, logo, que o Governo e os civis permaneçam indiferentes diante dessa temática.      Em princípio, é importante ressaltar que o desperdício de água não provém apenas dos cidadãos. Dentro dessa lógica, o volume de água usado em produtos e serviços, chamado de "água virtual", é responsável por fazer do Brasil o 5º maior exportador mundial desse recurso, segundo a Folha de São Paulo. Tal volume, desconhecido pela maioria da população, é usado pelas indústrias, principalmente as do agronegócio, e ameaça os 12% de água doce disponíveis em todo o território nacional. Ainda nesse raciocínio, justamente pelo país possuir grande potencial hídrico, cria-se um mito em que a água é um recurso infinito e que, por isso, pode ser usado com abundância.       Ademais, é notório que o desmatamento interfere de modo negativo e contribui para o agravamento dessa problemática. Nesse contexto, dados do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) permitem afirmar que cerca de 63% do bioma Cerrado foi desflorestado nos últimos anos no país. De maneira análoga, essa pesquisa mostra que o brasileiro não tem consciência ambiental dos riscos que a retirada de vegetação, especialmente as matas ciliares, podem trazer. Além de favorecer o assoreamento, tal prática também colabora para a poluição de rios, lagos e córregos, uma vez que a vegetação ao redor desses mananciais funciona como "filtro" e garante a qualidade da água dos mesmos. Sem ela, esse processo de filtração não é possível.       Fica evidente, portanto, que o mau uso e a desarborização auxiliam para a crise hídrica no Brasil. Convém, em primeiro lugar, que os Governos municipais e estaduais estabeleçam uma média mensal para o uso da água em cada uma das indústrias que usa tal recurso, multando aquelas que excederem essa média. Para que o desmatamento decresça, deve continuar em vigor a reflorestação obrigatória para aqueles que desmatam, de acordo com o Código Florestal. Investir em satélites e recursos aéreos para mapear e aumentar a presença federal nas regiões desmatadas, que geralmente carecem de fiscalização, também são medidas cabíveis. Assim, os impactos da escassez de água poderão ser mitigados no país.