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Enviada em: 01/10/2018

Escassez de água e geopolítica       Graciliano Ramos, um dos grandes expoentes do modernismo brasileiro, na obra “Vidas Secas”, expôs com maestria as agruras da seca. Passados mais de 70 anos da primeira edição dessa obra, em pleno século XXI, o problema da escassez de água é cada vez mais atual e não só impacta a qualidade de vida, como pode dar causa a diversos conflitos geopolíticos.     Primeiramente, cabe destacar que a água é imprescindível à vida. Tanto que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cada pessoa precisa de 50 a 100 litros de água por dia para suprir suas necessidades básicas. Diante disso, na perspectiva do filósofo inglês John Locke, para manutenção do “Contrato Social”, o Estado deve ser capaz de disponibilizar quantidade que garanta uma mínima qualidade de vida aos seus cidadãos. Ou seja, eventual incapacidade estatal legitimaria a rebelião dos seus nacionais.         Ademais, a necessidade de garantir água para a sua população em um cenário de escassez pode levar países a entrar em conflito. Exemplo histórico disso foi a Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando Israel invadiu as Colinas de Golã, na Síria, entre outros motivos, por essa localidade abrigar as nascentes do Rio Jordão. Análise recente da Organização das Nações Unidas (ONU) revela que existem mais de 1.400 barragens ou projetos de desvio de água em execução ou planejamento ao redor do mundo. Uma vez que muitas dessas obras se darão em rios que atravessam várias nações, percebe-se que o potencial de conflitos motivados por questões hídricas tende a aumentar.       Infere-se, portanto, que a escassez de água no século XXI poderá repercutir negativamente na qualidade de vida e a paz entre nações. Visando mitigar esses impactos, faz-se necessário criar mecanismos supranacionais de compartilhamento e preservação dos mananciais de água doce. Para isso, os governos nacionais liderados pela ONU devem criar uma agência internacional de águas – nos moldes da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) – e empoderá-la – cedendo parte de suas soberania – para que ela seja capaz de fiscalizar medidas de preservação e arbitrar contenciosos hídricos. Dessa forma, contribuir-se-á para evitar não só que mais pessoas sofram tragédia parecida com a de Fabiano e sua família, mas também que essa situação de escassez não conduza mais nações a entrarem em conflito.