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Enviada em: 19/07/2019

“Todos nasceram velhos – desconfio”. É com esse verso que Carlos Drummond de Andrade, um dos mais influentes poetas do modernismo brasileiro, no poema “Os Velhos”, ironiza os efeitos e as dificuldades enfrentadas na melhor idade. De maneira análoga, a realidade evidencia os desafios enfrentados no Brasil, que passa por uma significa alteração na sua constituição demográfica, onde o aumento da expectativa de vida tem elevado significativa o número de pessoas em idade avançada. Diante dessa perspectiva, cabe avaliar os fatores e impactos inerentes a esse quadro, além da importância das políticas públicas específicas.        Em primeira análise, evidencia-se que, com os avanços técnico-científicos, principalmente na área médica, o aumento da longevidade levou a um acentuado envelhecimento da população. Nesse aspecto, dados divulgados em 2018, pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –, apontam que o número de idosos deve chegar a 25,5% da população brasileira até 2060. Por conseguinte, as consequências desse processo englobam aspectos na esfera estrutural, social e, precipuamente, econômica, uma vez que significam uma redução da parcela economicamente ativa, além do aumento dos gastos no setor previdenciário.           Em segundo plano, a qualidade de vida desse setor da população está intrinsecamente ligada à sua inserção nos ambientes sociais, o que engloba, dentre outros, a garantia de acesso ao mercado de trabalho. Nesse diapasão, o Estatuto do Idoso, que regula os direitos das pessoas com idade igual ou superior a sessenta anos, assegura que esses indivíduos possuem o direito ao exercício da atividade profissional, devendo ser respeitadas suas condições físicas, intelectuais e psíquicas. Sendo assim, a idade avançada não deve representar, necessariamente, o afastamento do mundo laboral, mas sim um desafio de novas possibilidades.        Evidencia-se, portanto, a necessidade de que os desafios inerentes ao envelhecimento da população brasileira sejam enfrentados. Para isso, é substancial que o Ministério da Saúde, em atuação conjunta com as Prefeituras, realize projetos de parcerias com as empresas, incentivando, através do direcionamento de recursos vinculados e de compensação tributária, a contratação de idosos para seus quadros de funcionários. Outrossim, é vital a realização de oficinas e cursos de capacitação, em parceria com esses empregadores, voltados para a adequação dessas pessoas aos ambientes de trabalho, buscando a participação continuada destes nas atividades laborais. Dessa maneira, o envelhecimento da população tornar-se-á sinônimo de novas possibilidades, longe do pessimismo marcado nos versos da poesia drummondiana.