Materiais:
Enviada em: 17/02/2019

A série “Anne With an E” retrata a realidade do quadro de adoção. Na trama, a protagonista é filiada por uma família, que inicialmente desejava um garoto para ajudar com os trabalhos do campo. No decorrer dos episódios, é perceptível a presença de algumas constantes que permeiam a discussão sobre os obstáculos do processo de adoção no Brasil. Para reverter a situação de menores abandonados na contemporaneidade, obs abrigos se tornaram lares provisórios para milhares de crianças e adolescentes que, lamentavelmente, encontram impasses legislativos e sociais agravados pelo desconhecimento a respeito do assunto. Nesse sentido, destacam-se três grandes contribuintes para essa problemática: a divergência entre as expectativas dos filiadores, a realidade das casas de adoção brasileiras e o excesso de burocracia.        Numa primeira instância, é perceptível a prevalência de um estigma no que tange à questão da adoção. Semelhantemente ao que Drummond escreveu sobre as dificuldades da vida em seu poema No meio do caminho, o perfilhamento no Brasil ainda encontra muitas barreiras. Tais empecilhos refletem diretamente no número de adotantes. Dados pontuados pelo Conselho Nacional da Justiça constatam que a fila de pretendentes para adotar é maior que o número de crianças destinadas à adoção. Isso ocorre devido à exigência de um padrão. A maioria dos casais optam por meninas brancas com idade inferior aos 2 anos, sem irmãos e deficiências.        Outrossim, a prevalência de estigmas no que se refere à adoção de crianças e adolescentes no Brasil acentua a conjuntura exposta. Prevalece na sociedade o pensamento de que as crianças presentes no lares acolhedores sofrem ou poderão desenvolver transtornos mentais. Consoante à filosofia de Durkheim, a concepção se configura como um fato social na medida em que gera a perpetuação da discriminação e contesta o respeito à dignidade humana estabelecida pela Constituição de 1988. Tendo em vista que apenas 25, 63% dos pretendentes admite adotar crianças com 4 anos ou mais e 95,9% dos filiados ultrapassa essa idade, obtém-se uma incompatibilidade de difícil superação.        Diante do contexto apresentado, evidencia-se a necessidade de medidas a fim de atenuar o problema. É imprescindível, portanto, que o Ministério da Educação promova campanhas e palestras informativas com o fito de exterminar os preconceitos existentes em torno do assunto. Somado a isto, cabe à mídia e à escola fomentar o interesse dos indivíduos sobre o tema por meio de palestras e campanhas de conscientização. Destarte, o entendimento da adoção como um ato social e contínuo é imprescindível para que se contornem as pedras postas no caminho de uma ação tão nobre e significativa.