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Enviada em: 19/06/2019

A série televisiva "Anne with an E" retrata a vida da protagonista Anne, uma menina de 13 anos adotada por um casal de irmãos, além dos desafios enfrentados por ela ao descobrir que eles queriam adotar uma criança do sexo oposto. Fora da ficção, percebe-se que o processo de adoção no Brasil tem sido um obstáculo continuo. Logo, entre os fatores que contribuem para solidificar este quadro destacam-se: a personificação da criança a ser filiada, bem como a burocratização extensa.   A priori, nota-se que o perfilhamento brasileiro sofre um descompasso histórico entre o perfil desejado pelos pais e as crianças presentes nos lares adotivos. Por conseguinte, a máxima do filósofo Émile Durkheim de que a sociedade é movida por ideias coercitivas que se dissolvem e manipulam a consciência coletiva é válida. Nesse sentido, os filtros de preferência como sexo, idade, etnia e deficiência -desenvolvidos socialmente- contribuem para a permanência de menores nos orfanatos. Desse modo, embora o número de interessados seja 12 vezes maior que a quantidade de crianças, a exigência de uma feição específica dificulta os processos adotivos.   Sob outro ângulo, é notável que o excesso de tramites administrativos acarreta inúmeras desistências em virtude do tempo de espera. Consoante ao ideário, segundo uma pesquisa da Universidade de São Paulo, 63% dos pretendentes que esperam na fila desistem de adotar devido à absurda demora dos procedimentos. Nesse viés, o processo de filiação pode demorar anos e o enjeitamento de crianças ainda maior. Análogo a este cenário, a máxima da filósofa Hannah Arendt em "Banalidade do mal" afirma que o pior mal é aquele visto como corriqueiro. Desse modo, medidas são necessárias para resolver os impasses no processo de adoção no Brasil.   Portanto, o Estatuto da Criança e Adolescente e o Conselho Tutelar, como instâncias máximas dos aspectos de perfilhamento, devem criar estratégias no tocante ao processo adotivo a fim de evitar a burocratização extensa.  Essa ação pode ser feita por meio de programas digitais e formação de profissionais especializados para agilizar a papelada. Ademais, é necessário que recursos midiáticos desenvolvam campanhas de incentivo à adoção de menores -independente de suas características- com a intenção de assegurar lares adotivos para todas as crianças na fila e diminuir as exigências de determinados perfis. Talvez, assim, a assertiva de Hannah Arendt seja nula e mais "Annes" adotadas no Brasil.