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Enviada em: 15/08/2019

A Constituição Brasileira e o Estatuto da Criança e do Adolescente consideram a adoção uma medida protetiva que tem por finalidade satisfazer o direito da criança a uma convivência familiar sadia e proporcioná-la um bom desenvolvimento físico, educacional e moral. A adoção tem caráter irrevogável, logo juridicamente não pode ser desfeita, e contempla todos os direitos que teria um filho biológico. O número de pessoas dispostas a adotar cresce gradualmente. Por que então o número de crianças cadastradas em abrigos e no sistema cresce da mesma forma?                 O processo adotivo apresenta certa parcela burocrática. No Brasil, caso o individuo interessado procure a Vara da Infância para dar inicio ao processo, existem pré-requisitos: informações e documentos pessoais bem como antecedentes criminais e jurídicos. Em contra partida, a grande maioria busca por crianças em hospitais ou abrigos. Dados de pesquisa declaram que hoje o número de famílias brasileiras com interesse em adotar se aproxima de 30 mil e pelo menos 5 mil crianças registradas no sistema estão em condições de serem adotadas, já o número daquelas vivendo em abrigos passa de 40 mil. O desafio enorme assim se expressa: a conta, claramente, não bate.              Os obstáculos para que a adoção seja efetivada vão além de papelada. Uma questão que entra automaticamente em pauta é a situação financeira de quem pretende adotar - a especulação do valor da criação de um filho gira em torno de 1 milhão de reais - mas a demora nos processos também consta como fator importante. Entretanto, na realidade, a dificuldade que mais se enfrenta é a discrepância entre o perfil idealizado da criança e o mundo real. Esse fator parte do princípio de que a maioria dos pretendentes não está disposto a adotar mais de uma criança ou têm predileção por bebês e crianças pequenas (estes representam menos de um terço cadastrado). Critérios que fogem do real propósito da adoção: proporcionar um lar e acalanto. Como dito pela poetisa e grande cronista Martha Medeiros "idealizar é sofrer, amar é surpreender".              A adoção não é só simbolismo. Sim, o laço que será criado é vitalício e denota um sentimento puro de cuidado e proteção. Não obstante, requer todo o sacrifício que um filho biológico traz. Estabilidade financeira e boa condição material são pré-requisitos, mas também se faz importante estabilidade emocional, paciência e amor para que a experiência da criança seja a melhor possível. É necessário se libertar de certas pretensões e presunções sobre o processo, sobre a criança e sobre a dinâmica familiar. A idealização só funciona no sonho. A grande beleza da adoção se esconde na ação bondosa, modesta e de certa forma altruísta de escolher viver o amor de maneira mais pura: auxiliar no florescer de um individuo independente de qualquer ligação biológica.