Materiais:
Enviada em: 20/08/2019

No limiar do século XXI, os impasses sociais e burocráticos envolvidos no processo de adoção aparecem como um dos problemas mais evidentes na sociedade brasileira. É mediante tal questão que a socialização e inclusão de adotados é comprometida. Nesse contexto, é indispensável salientar a baixa efetividade do poder público para a efetivação das tramitações no âmbito das adoções. Diante disso, vale discutir a burocracia processual, os critérios selecionados pelos pais adotivos além do conceito de família enraizado na sociedade brasileira.     Em uma primeira abordagem, é importante salientar que o número de crianças cadastradas para adoção é muito menor do que a quantidade de pessoas interessadas em adotar. Porém, a existência de critérios ideais configuram impasse na diminuição desses números. Assim, a idade, existência de laços fraternais preexistentes e até mesmo a raça são fatores considerados essenciais para o adotante, perpetuando um conceito familiar no país. Ademais, as complicações burocráticas advindas da omissão do poder público atenuam a fragilidade dos jovens em abrigos.  Assim, é comum que adolescentes passem a adolescência nesses locais e, obrigados a saírem deles aos dezoito anos, adentram a sociedade sem suporte social, familiar ou político. Nesse contexto, estudos do Instituto de Pesquisa de Campinas apontam que 85% dos jovens acima dos treze anos permanecem nos abrigos até completarem a maior idade, explicitando o padrão exigido pelas famílias adotivas.     Outro ponto em destaque — nessa temática —é a educação como alicerce para uma juventude inclusiva. Desse modo, o sociólogo Robert Putnam defende o pensamento de que uma mesma pessoa torna-se mais eficiente e produtiva se está inserida um ambiente social em que há um alto nível de confiança e responsabilidade recíproca entre as pessoas. Na contramão desse cenário, o que se observa no Brasil é a deturpação dessa definição. Nesse sentido, a sociedade e todas as suas gerações contêm resquícios de um preconceito fortemente enraizado sobre crianças adotadas. Assim, a pratica de bullying e violência contra adotados ainda são preocupações a serem lidadas pelos adotados e adotantes, acrescentando ao número de impasses para a adoção no país.      Considerando os aspectos mencionados, fica evidente a necessidade de medidas para promover a importância de uma adoção e inserção saudáveis de crianças brasileiras adotadas. Cabe ao Estado investir na formação de futuros docentes, criando novas disciplinas curriculares que discutam a importância da inclusão e responsabilidade civil nas novas gerações, promovendo igualdade e desconstrução do preconceito à adoção. Dessa forma, será possível garantir uma sociedade que auxilie e dê o suporte necessário às crianças que precisam de vínculos afetivos por meio do processo adotivo.