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Enviada em: 31/03/2019

O filósofo Voltaire, em seu livro" Tratado sobre a tolerância", condena as agressivas perseguições religiosas de seu período e defende a tolerância em qualquer sentido. Dentro desse espectro, depois de séculos, suas ideias permanecem atuais com a diferença de que, com o acesso à internet, a mesma intolerância foi ampliada e se concretiza em discursos de ódio contra minorias. Tais discursos frequentemente culminam em violência física, hostilizações e prejudicam até o caráter democrático do país. Logo, medidas são necessárias para reverter esse quadro.       A princípio, é preciso ressaltar como a internet possibilitou a disseminação da intolerância. Nesse sentido, um preconceito que antes existia isolado, ao ver mais pessoas compartilhando do mesmo pensamento, ganha força, aumenta seu poder e se expressa sem pudor, alimentando o ódio e a intolerância. Consequentemente, episódios de violência passam a ser mais frequentes como o que aconteceu com a travesti Dandara, muito noticiado pela mídia, que foi apedrejada e morta no Ceará. Percebe-se, então, que esses discursos de ódio põem em risco a integridade e a própria vida das vítimas.       Além disso, é válido destacar também que uma ineficiência legislativa viabiliza a posição de superioridade de certos grupos na sociedade. Sob esse viés, as minorias são assim denominadas não por serem menor quantidade, mas sim por não possuírem os mesmos amparos legais do restante da sociedade. Por conseguinte, os grupos dominantes - majoritariamente homens héteros - se acham no direito de ofender e até matar os integrantes dessas minorias por não sofrerem nenhum tipo de punição. Essa falta de respaldo legal fere o caráter democrático do país, visto que de acordo com a filósofa Marilena Chauí, democracia pressupõe participação, igualdade e liberdade de todos em qualquer esfera social, o que não é observado no caso dessas minorias.       Fica claro, portanto, que a intolerância e os discursos de ódio são nocivos à sociedade. Para mudar esse cenário, o Ministério da Educação deve incluir na ementa das escolas aulas de filosofia e sociologia que abordem essa temática. Por meio de filmes, peças teatrais e palestras com componentes das minorias, os alunos aprenderão aspectos culturais e as desvantagens sociais existentes e, com isso, desenvolverão um olhar crítico e não reproduzirão discursos de ódio. Ademais, ONGS, com a participação da população, podem fazer abaixo-assinados e manifestações a fim de exigir do poder legislativo a criação de leis que contemplem as necessidades sociais das minorias e ofereçam proteção legal a todos. Com isso, o Brasil continuará sendo um país democrático e os ensinamentos de Voltaire sobre tolerância não ficarão restritos às páginas de seus livros.