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Enviada em: 16/06/2019

Engana-se quem pensa que a intolerância é um fenômeno atual. A aversão a diferentes grupos sociais  faz parte da história da humanidade de diversas maneiras e atingiu até mesmo os antigos pensadores no contexto em que viveram. O que se observa com o decorrer do tempo é que a intransigência  tende a  crescer e ganhar apoio em direção a grupos socialmente frágeis, o que salienta a falta da noção de alteridade e o importante papel das câmeras de eco na "normalização" de comportamentos violentos.     O choque entre realidades é o primeiro passo para intolerância que por sua vez origina o ódio. O conceito de alteridade se trata da presença do entendimento da existência de si e do outro, ou seja, entender que existe a diversidade. Em seu poema Anedota Búlgara, Carlos Drummond de Andrade, grande nome da literatura brasileira, exemplifica o esse conceito ao retratar de forma humorística o homem naturalista que caça humanos aterrorizado com o fato de se caçarem animais. O homem naturalista se opõe a prática pelo choque de uma realidade desconhecida, isso é, pela ausência de alteridade que é princípio da intolerância.       O sentimento de aversão criado pela impaciência com as diferenças traz consigo o sentimento de ódio e a ideia de que a sua identidade é mais importante do que outras. Consequentemente, o desejo em desprezar o diferente cresce e se manifesta através dos discursos de ódio que normalmente, no contexto social, são provenientes das classes dominantes, aquelas que possuem privilégios em relação ao resto da sociedade, em direção às minorias, que por alguma razão são rejeitadas socialmente, visto que têm significativamente maior espaço de fala e notabilidade. Esses discursos de violência são popularizados através da sua repetição constante por pessoas que pensam igual, a chamada câmara de eco. Dessa forma, o movimento de violência cresce consideravelmente e, aos poucos, torna-se "normal" a propagação do ódio.       Tendo isso em vista, é primordial que a sociedade aliada ao governo trabalhe para dar voz as minorias. É necessário desnaturalizar a ideia de superioridade entre classes, através de campanhas de conscientização e do fortalecimento de programas que incentivem a representatividade de negros, LGBT, mulheres entre outros grupos que têm seu espaço de fala reduzido. Além disso, é importante cargos altos, campanhas publicitárias, entre outros canais de visibilidades retratem e incorporem a diversidade, bem como deve ser criminalizado qualquer tipo de segregação por raça, gênero ou qualquer tipo de preconceito. Com isso, espera-se que a capacidade de alteridade da sociedade seja gradativamente ampliada, de forma a diminuir o choque entre as diferenças e consequentemente reduzir a incidência de discursos de ódio na sociedade como um todo.