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Enviada em: 11/06/2018

A obra ''O princípio da responsabilidade'' do filósofo alemão Hans Jonas calcava-se na ideia de que os seres futuros exigem eticamente compromisso daqueles que os gerarão. Contudo, a postura dos cidadãos brasileiros nos dias atuais frente a questão dos discursos de ódio na internet configura-se como um grande obstáculo para a concretização desses preceitos, uma vez que hodiernamente vigora nas redes sociais a propagação de conteúdos de cunho preconceituosos e nocivos ao equilíbrio social.   Mormente, é cabível pontuar que o fácil acesso às redes sociais e o aumento da polarização política constituem-se como fatores preponderantes para a propagação de discursos intolerantes nesses meios de comunicação, haja vista que o aumento de opiniões divergentes estimulam decisivamente os indivíduos a expressarem ideias de caráter preconceituoso contra pessoas que seguem linhas de pensamento opostas. Ademais, a possibilidade de anonimato vivenciada pelos usuários das mídias sociais notadamente favorece a disseminação destes ideais, uma vez que permeia no ambiente virtual a sensação de impunidade quanto aos crimes realizados na internet.    Outrossim, nota-se que tal situação é corroborada por fatores socioculturais. Lamentavelmente, na sociedade moderna, o cyberbullying tornou-se uma ferramenta para a difusão de ideologias discriminatórias - a exemplo do racismo, xenofobia, homofobia, dentre outros - reflexo de uma sociedade que marginaliza e estigmatiza os grupos minoritários. Destarte, o grande alcance e a rápida propagação de tais conteúdos constitui como um grande impasse à sua identificação e posterior remoção, o que por sua vez influem às vítimas a não procurarem por ajuda profissional e denunciarem os casos de assédio virtual, uma vez que estas ao se depararem com comentários de caráter preconceituoso não veem à denuncia como alternativa para a solução do problema.    Em virtude dos fatos mencionados, depreende-se que a problemática urge por medidas interventoras, pois fere a liberdade individual. Isto posto, em relação às figuras de domínio público, cabe ao Poder Legislativo a criação de leis mais rigorosas que criminalizem o preconceito e ódio na internet, e juntamente com o Judiciário fazer efetiva a sua prática, com o fito de mitigar tais conteúdos no âmbito cibernético. Sob esse viés, é dever das instituições de ensino a elaboração de projetos que incitem discussões acerca do assunto, tais como palestras e discussões sobre a intolerância no espaço virtual, - uma vez que ações coletivas têm grande poder transformador sobre a sociedade - a fim de conscientizar todo o corpo social. Apenas assim alcançar-se-á uma sociedade plena e justa, pautada nos princípios de Hans Jonas, e garantir-se-á um futuro melhor aos seres que virão.