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Enviada em: 06/10/2017

As “camas” da intolerância na sociedade líquida       No documentário “Audrie & Daisy”, dirigido por Bonni Cohen e Jon Shenk, retrata-se a história de duas meninas vítimas de estupro em diferentes situações. Em ambos os casos, porém, explora-se o bullying ao qual as meninas foram submetidas devido às suas denúncias, como mensagens de ódio nas redes sociais e xingamentos em seu ambiente escolar. Com o prosseguimento do caso, Audrie não suportou a pressão de seus agressores virtuais e suicidou-se. Tais casos servem para ilustrar a atual situação de intolerância e do ódio no mundo contemporâneo. Hoje em dia, em um contexto de liquidez das relações, uma parcela da população não tolera divergências e diferentes visões de mundo.        A modernidade líquida, como descrito pelo sociólogo Zygmunt Bauman, preconiza uma fluidez nas relações atuais, as quais tornam-se efêmeras e, em consequência, individualistas. Nesse contexto, a internet - local onde o anonimato é visto como verdade - torna-se o maior produto dessas novas ligações. Em um ambiente “desprotegido”, a intolerância e os discursos de ódios tornam-se frequentes, como afirma os dados da ONG Safernet, os quais demonstram o aumento de 200% de denúncias contra discursos de ódio entre os anos de 2010 e de 2013. Assim demonstra-se uma relação violenta com os seus iguais em vista de suas relações frágeis e fluídas.         Tais comportamentos da sociedade atual, em consequência, provocam, em especial, aos jovens, um maior número de casos de bullying e de suicídios, por exemplo. Como no Mito de Procusto, o qual um gigante, chamado Procusto, convidava viajantes à sua casa, os quais, posteriormente, deitavam-se em uma cama preparado pelo gigante. Nesta, então, ele cortava os membros de seus convidados no intuito de adequá-los à modelagem de seu leito. Tal mitologia serve como alegoria do mundo atual. Hoje em dia, a maioria da sociedade parece provir da mesma cama de Procusto, a qual não só tentam moldar os outros à ela, mas também defendem com discursos de ódio àqueles relutantes a aceitá-la.         Assim como denunciado por Cohen e Shenk, o mundo atual deve superar as atuais problemáticas consequentes da liquidez social, como o bullying e o discurso intolerante. Assim deve-se evitar à constituição de novos moldes - novas camas de Procusto - e preconizar uma sociedade mais flexível. No intuito de resolver esta problemática, o Estado deve vincular uma nova campanha midiática, intitulada “Discursos de ódio no Brasil: não!”. Nesta, utilizar-se-á de um método de choque da realidade às pessoas, deve-se formar a partir da leitura de discursos de ódio por pessoas oprimidas em consequência deles, visando a conscientização dos opressores. Tal campanha, então, deve ser vinculada nas mídias visuais, como as redes sociais e a televisão, assim como nas mídias impressas.