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Enviada em: 18/10/2017

De Gonçalves Dias, com o romantismo indianista, a Sergio Buarque de Holanda, em sua célebre obra "raízes do Brasil", o brasileiro foi retratado como um povo pacífico, hospitaleiro e cordial. Contudo, essa visão é facilmente desmistificada quando se observa o comportamento desse povo na internet, onde o que predomina são discursos intolerantes e conservadores. Nesse sentido, é preciso compreender que existe uma linha tênue entre liberdade de expressão e discurso de ódio e essa linha não pode ser ultrapassada.      Em primeira análise, desde as eleições de 2014 observa-se uma crescente polarização na sociedade, que consequentemente também se refletiu no ambiente virtual. Assim, um levantamento feito entre abril e junho de 2016 pelo projeto "Comunica que muda" denunciou que de aproximadamente 390 mil menções feitas na internet, - sobre os mais diversos temas como: política, misoginia, racismo - 84% se tratavam de menções negativas.         Em segunda análise, a crise política vivida no país nos últimos 3 anos criou um terreno fértil para o surgimento de figuras políticas como o deputado Jair Bolsonaro que se beneficia desse acirramento político e estimula posicionamentos radicais que agridem os direitos de minorias como os das mulheres, negros e da comunidade LGBTQ.        Ademais, há no imaginário do brasileiro, a ideia de que a internet é "terra sem lei". Prova disso é o ataque racista sofrido pela jornalista Maju Coutinho que, em julho de 2015, teve a sua página virtual preenchida de ofensas relacionadas a sua cor. No entanto, esse caso é a prova de que crimes virtuais não ficam impunes, pois, após a denúncia da vítima, os criminosos foram rastreados, presos e estão respondendo a processos pelos crimes de injúria, racismo e associação criminosa na internet.      Urge-se, portanto, que indivíduos, instituições privadas e o Estado cooperem para mitigar a intolerância no ambiente virtual. Dessa forma, cabe aos cidadãos repudiar publicações e comentários discriminatórios, para que fique claro a toda a sociedade que esse tipo de conduta é inaceitável independentemente do ambiente. Às empresas, donas de aplicativos e sites, compete a criação de softwares que facilitem a denúncia e identificação de criminosos e munidos dessa informação, podem avisar aos usuários que determinados sites contém conteúdo preconceituoso. Em consonância, o governo deve suscitar nas escolas debates sobre a intolerância, estimulando o diálogo, além de criar campanhas em todas as mídias que disseminem o respeito às diferenças. É preciso, também, aumentar o número de delegacias de crime virtuais para que, dessa maneira, agilize o processo de denúncia e investigação. Assim, o Brasil caminhará para uma realidade mais respeitosa.