Há cerca de dois anos atrás, dois irmãos promoveram um atentado terrorista que deixou mais de dez mortos no jornal satírico francês Charlie Hebdo. Os assassinatos dos chargistas franceses trouxeram à luz um preconceito latente no mundo e no Brasil: a intolerância virtual. Nesse sentido, observa-se que existe uma fragilidade no poder do diálogo visto que os usuários estão confundindo cada vez mais a liberdade de expressão com proferir discursos de ódio, perpetuando a cultura da impunidade no Brasil. A princípio, Gilberto Freye disserta em seu livro “Casa-Grande Senzala” sobre como a sociedade é uma triste reprodução da casa colonial. Seguindo essa linha de pensamento, a mídia social configura-se como a casa colonial de Freye à medida que os usuários cibernéticos disseminam ideias e valores arcaicos, baseando-se em um senso de individualismo crônico, mascarando sua intolerância com a liberdade de expressão que quando analisada sob um viés social tem sim, um limite. Como consequência, dados alarmantes divulgados pela empresa de segurança da internet Symantec mostram que o Brasil registra 54 crimes virtuais por minuto, fato que reforça a ideia da necessidade do combate no país. Além disso, é preciso ressaltar que vivemos em uma sociedade tecnológica e globalizada que é hoje protegida pelo anonimato, facilitando a prática desses crimes. Isso é afirmado, pois são inúmeros os casos de misoginia, racismo, machismo e intolerância religiosa vistas na rede que ganharam uma repercussão midiática, mas não obtiveram êxito na questão judicial. Tem-se como prova disso o fato de que a jurisprudência nacional ter se mostrado a favor da condenação dos indivíduos que cometem delitos por meio da internet, mas por haver lacunas na lei a respeito do tema, ainda existem criminosos que não podem ser condenados. Portanto, medidas cujo objetivo seja reverter esse quadro são cabíveis. Nesse contexto, a educação é fundamental. Logo, é dever das escolas públicas e privadas implantar palestras, debates e fóruns acerca da responsabilidade virtual e da importância de se respeitar os outros, evidenciando os males causados pelo cyberbullying. Assim, os jovens estudantes se tornarão seres mais conscientes e aptos a lutarem também contra a problemática. Ademais, cabe ao Poder Público unir-se com o Ministério da Ciência e da Tecnologia (MCT) para promover ouvidorias online a fim de que os casos de denúncia desse tipo de crime na rede sejam atendidos de forma mais rápida e essa prática não se perpetue no país tão facilmente. Afinal, a casa colonial não existe mais no mundo real e também não deve existir no virtual.