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Enviada em: 29/04/2019

“No meu tempo...”: expressão desgastada. No início da discussão em torno da Lei da Palmada, é preciso resgatar a noção de “tradicional”, que pouco tem a ver com “arcaico”. Tradicional é aquilo que veio do passado e precisa ser preservado, enquanto que arcaico é aquilo que veio do passado e deveria ter sido ali mesmo esquecido. Agora, sim, é possível avaliar o pasmo de muitos adultos frente às esquisitices das crianças: “No meu tempo, chamar a mãe de mentirosa rendia um tapa de mão cheia!” E, então, para refrear os “tapas de mão cheia”, eis a Lei da Palmada, também conhecida por Lei Menino Bernardo.       Os legisladores reconhecem que os tempos sejam outros. Isso porque, hoje, pais e filhos estão mais próximos – a distância que separava uma geração da outra, aos poucos, foi encurtada. As cenas de violência, se não espontaneamente, estão sendo banidas por força da Lei, na certeza de que os noticiários deixem de focalizar crianças amarradas ao pé da mesa, pernas riscadas de cinta, olhos roxos, sem falar no incômodo à vizinhança e à polícia.       Entretanto, há quem considere a Lei invasiva, ao fundamento de que o Estado não deva interferir no modo como os pais educam os filhos. Com efeito, a palmada já foi critério de disciplina de muitas gerações, o que, no passado, realmente, trouxe resultados memoráveis. No contraponto, os defensores da Lei da Palmada, atentos aos exageros de certas famílias, constataram a obsolescência da palmada e acenaram em favor do diálogo – segundo eles, o modo correto de educar uma criança. E não é só: a Lei prescreve punições àqueles que insistirem em usar quaisquer meios de violência como medida socioeducativa.       Desse modo, é preciso que, no mundo pós-moderno, pais e filhos cumpram com suas atribuições de maneira mais cordial, mais racional – até porque pancadaria não é sinônimo de boa formação, mas sim de uma conduta cultural ultrapassada, que precisa, urgentemente, ser revista. As famílias devem ser melhor orientadas por especialistas da Educação e, para isso, o Poder público pode se valer dos apelos midiáticos – afinal, a TV deve cumprir seu papel social. Os tempos, de fato, são outros.