Materiais:
Enviada em: 13/05/2018

O DCDP - Departamento e Censura de Diversão Pública - foi a repartição do governo ditatorial militar vivido no Brasil entre os anos de 1964 à 1984, responsável, como o próprio nome diz, por censurar toda e qualquer manifestação artística que "atentasse contra o governo, a moral e também aos bons costumes". Quase quatro décadas após o fim do regime militar no Brasil, questões relacionadas à imposição de limites no mundo das artes ainda são recorrentes no país.  Durante boa parte de toda história da arte, a mesma foi definida como expressão maior da estética e do subjetivismo, porém a partir do final do século XIX ao começo do século XX, com o advento das vanguardas modernistas, é visto que a arte se tornou também um fenômeno social, usada pelos artistas como instrumento de manifestação de ideias e diálogo com o público. No entanto a tomada desse novo caráter faz com que a arte esteja ainda mais sujeita a todo tipo de interpretação pelo público que nem sempre é favorável à determinada obra, é o caso da exposição "Queermuseu - Cartografia da Diferença da Arte Brasileira", realizada em Porto Alegre pelo Santander Cultural em 2017, e cancelada após manifestações de movimentos sociais que interpretaram as obras como sendo antiéticas e imorais.  Esse acontecimento é um bom exemplo de que limites já estão sendo impostos ao mundo das artes - mesmo em uma democracia - o que cria um paradoxo com a característica expressão liberal da arte, que tem - sintetizando as afirmações de Solange Farkos e Baixo Ribeiro em uma entrevista ao Nexo Jornal em 2017 -  a função de transgredir paradigmas e apontar problemas que muitas vezes, nem são do conhecimento do público, sendo que a imposição de limites fará com que a arte os transgrida também, pois esse é seu papel social, o da transgressão.  Nesse sentido, tomando o caso do "Queermuseu" como exemplo, é importante que a instituição de promoção cultural deixe explícito do que se trata uma obra ou exposição, usando indicadores de conteúdo e idade - que não lhes são obrigatórios - para cientificar o público do conteúdo oferecido. Quanto ao público cabe tentar entender do que se trata a ideia do artista com aquela obra, sem reprimi-lo ou censurá-lo, deixando-o livre para se expressar. Se exemplos de repressão como esse continuarem acontecendo só mostrará que a população contínua em conjunto a um passado do qual não deveriam se orgulhar.